Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

FIO COBRA - JANDIRA ZANCHI

$
0
0


Ilustração: Giorgio de Chirico



TORTURAS

Monossilábicas frasesaproximam-se por
entre as nuvens nesses dias de faíscas
foscas fosforescentes
                                   entrementes

                           silêncio aquietado
nesta estrada simplificada de dias
decorridos inteiriços sem rasuras ou

estrelas que se apagam
afinam afunilam na madrugada

evito-as,  insone, gargarejo  quando
lembro maviosas torturas
nessas horas  que não se encaixam.



ENTREGA

ciente do invisível
espectadora do possível

sem trégua e lástima
o timo e o rumo ao léu

as sentenças são chaves azuis
espumadas à 1ª luz do dia
alvo e frio escorrido da noite
de ventosas e neblina

estrelas se entreolham
e novamente silenciam esses
acordos do solo que  se fazem
em blocos sem sedimentos
movimentos esparsos e caros
lentos ou perfurados
em suas conchas

 iniciou-se no milagre
avança-se a esmo e bagre

rezas são ofensas à meia voz
entrecortadas de suspiros
e música entre dois goles
quase impuros do néctar
dos sábios alfarrábios
alfabetos discretos
discrepantes e ondulantes
na nau dos tempos
contratempos em teus sonhos

avançamos cá e lá na surdina
da entrega esfrega esfrega
esfrega esfrega esfrega
entrega......


Ilustração: Giorgio de Chirico



FIO COBRA

Escuto, com parcimônia, o trincar
da tarde na chávena de chá
chuvisco e chuveiro de um
fresco almíscar de passos
escorridos  na laje

esmero-me em miúdos trocados
nódoas novenas de perdas promíscuas
passatempo bravio de detalhes
correntes e  serpentes do ser

sonsa de soníferos, mal acordo
vomito-me à míngua

minha vida me diverte
pois não lembro
minhas vias
razões e alegrias

 e na roca do tempo
refaço o quadro do vento
o fio cobra
cobre de fastio e fausto

um silêncio nadado
por léguas de insistência
verga na alma sisos e séquitos

um desmaio no horizonte
de dunas amarelas
 - arejado de luz -
enquanto corpúsculos
de água e sombra
estreitam-se no fim do túnel

 corrida do céu
a asa ferida
consciência
conhecimento
compartimento
acomodamento
filosofia de viés
dor e encanto
entoa o cântico
os violinos dançam
ao som dos festejos
       - aleluia -
a qualquer momento
a evidência.


JANDIRA ZANCHI


Poemas extraídos de A Janela dos Ventos (Emooby,2012)





Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles