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3 POEMAS DE MADJER DE SOUZA PONTES

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[fortuna]


eu me dei um destino
mais vasto que uma vida
mais denso que o silêncio
das árvores noturnas

eu me dei um destino
que não concerne ao meu
deserto árduo e isolado
mas dele nascedouro

eu me dei um destino
que de sangue e de ferro
que de angústia e de vida
vai pulsando nas coisas

eu me dei um destino
de atroz contentamento
de mágoas luminosas
e cruéis lamentações





[peroração]


o mundo
é o golpe que experimento:
há diárias incisões que o suor padece
pois que a obravida:
                esta procura incessante de um algo dizer
                este ensaio falho de exatamente
                esta dor semota nalgumas poucas folhas soltas
                esta invenção de poder
                               está em cada raiz arraigada ao ser:

é um golpe que ultrapassa o muscular
                que arde fundo no sofrimento
                               de uns tantos versos
                               de uma tanta vida
                               que não se deixa dizer





[queda]


o beija-flor equivocou-se?
ou foi o vidro que dividiu
a tarde? – foi mais que uma luta
que da sala cinza se viu:

que o beija-flor sendo leve
vezes escapa ao olhar –
mas aquela tarde foi lenta:
a vida despencando no ar –

não houve socorro que prouvesse:
– o vidro dividia a tarde –
como sentir-se preso em si
e não bastasse nenhum alarme –

o beija-flor descansou triste
flutuando num perverso abismo
como o olhar sem saber quando

concluirá o cruel aforismo




Ilustrações: Nastya Ptichek



*    *    *



Madjer de Souza Pontes nasceu em Pedra Branca, é editor da Revista Pechisbeque e terá seu primeiro livro publicado pela Editora Subsânsia.




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