Ilustração: Silentium by ra-gro
não ser
nem luz
nem treva
– tão só
penumbra.
estar
votado
pro vago.
nem luz
nem treva
– tão só
penumbra.
estar
votado
pro vago.
qual borra
de ocaso,
não ter
o traço
que cinda.
restar
no entre
das falas.
de ocaso,
não ter
o traço
que cinda.
restar
no entre
das falas.
*
não pra planilhas,
mas para livros,
fomos cerzidos.
só os delírios
nos dão abrigo.
a mente é rala.
não raro o vago
ela adivinha.
mas para livros,
fomos cerzidos.
só os delírios
nos dão abrigo.
a mente é rala.
não raro o vago
ela adivinha.
e passa as noites
nessa oficina.
lobotomias
dragam sua vala.
resiste o asilo.
no cerne habita
ainda o mito.
nessa oficina.
lobotomias
dragam sua vala.
resiste o asilo.
no cerne habita
ainda o mito.
*
na mão não canta o mistério.
com o dito jamais se deita.
não há com o que se o ferre.
a carne o sabe, não o porta.
deixemos que passe alheio
o que mais dentro ressoa.
não vem da areia esse gesto
que diz ao vento: “disperse”.
pra deuses não nos fizeram.
a águia, se ousarmos, desce.
*
poema que pari parou–me.
só dei de si quando houve
tal blitzkriegde metáforas
por mi'as vias fleumáticas.
no mais das vezes não vale
a pena dar pena ao acre
ofício de artifício uterino
– o feto nos sorve o cassino!
só marcha de flatos! lassos
tocando uma! tão raros
os de se pôr à estante
pra repousar sob Dante!
*
poema não pode ser diplomático.
ele é de bombas, não de tratados.
de brigas de foice, não de xotes.
poetas não devem ser polidos.
deveriam se cuspir ao se ver.
deveriam perigar sair no tapa.
poeta é um troço tão espinhoso
que não deveria dar abraços.
Diego Callazans
Poemas de "A Poesia agora é o que me resta" (Patuá,2013)