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A poesia agora é o que me resta - Diego Callazans

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Ilustração: Silentium by ra-gro




não ser
nem luz
nem treva
tão só
penumbra.

estar
votado
pro vago.

qual borra
de ocaso,
não ter
o traço
que cinda.

restar
no entre
das falas.



*
não pra planilhas,
mas para livros,
fomos cerzidos.

só os delírios
nos dão abrigo.


a mente é rala.
não raro o vago
ela adivinha.

e passa as noites 
nessa oficina.

lobotomias
dragam sua vala.
resiste o asilo. 

no cerne habita
ainda o mito.
  


*
na mão não canta o mistério.
com o dito jamais se deita.

não há com o que se o ferre.
a carne o sabe, não o porta.

deixemos que passe alheio
o que mais dentro ressoa.

não vem da areia esse gesto
que diz ao vento: “disperse”.

pra deuses não nos fizeram.
a águia, se ousarmos, desce.


 
*
poema que pari parou–me.
só dei de si quando houve
tal blitzkriegde metáforas
por mi'as vias fleumáticas.

no mais das vezes não vale
a pena dar pena ao acre
ofício de artifício uterino
– o feto nos sorve o cassino!

só marcha de flatos! lassos
tocando uma! tão raros
os de se pôr à estante
pra repousar sob Dante!


  
*
poema não pode ser diplomático.
ele é de bombas, não de tratados.
de brigas de foice, não de xotes.

poetas não devem ser polidos.
deveriam se cuspir ao se ver.
deveriam perigar sair no tapa.

poeta é um troço tão espinhoso
que não deveria dar abraços.


Diego Callazans 


Poemas de "A Poesia agora é o que me resta" (Patuá,2013)




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