Ilustração : Held Back
nestes versos
o mapa-mundo
o mapa-mundo
uma pele de animal
ausente de palavras.
ausente de palavras.
1.
sabes, walt,
um livro nunca terá a dimensão de uma vida ou
de um corpo,
nem as suas palavras estremecem como estremece
um lago, um rio ou um oceano
são dimensões opostas:
a linguagem e a natural visceralidade do
poema,
um poema sem imaginação,
mas com toda a intensidade de quem não espera mais nada
senão o próprio desejo de
viver,
de quem não escreve mais nada
senão essa convicção plena
que matar é sinónimo de
[tornar escura essa voz].
um livro nunca terá a dimensão de uma vida ou
de um corpo,
nem as suas palavras estremecem como estremece
um lago, um rio ou um oceano
são dimensões opostas:
a linguagem e a natural visceralidade do
poema,
um poema sem imaginação,
mas com toda a intensidade de quem não espera mais nada
senão o próprio desejo de
viver,
de quem não escreve mais nada
senão essa convicção plena
que matar é sinónimo de
[tornar escura essa voz].
2.
não tenho biografia. nem um pouco desse ajuntamento fácil de acontecimentos e experiências,
dessa história, dessa memória narrada que me faz a mim [e aos outros poetas]
não tenho nada disso que se chama idade cronológica
idade fértil experiência de vida hora de entrar e sair do poema
não tenho nem nunca tive história
[e nem posso ter]
porque a posteridade é uma faca que agarra a pele
e a vivência não pode ser deste tempo
nem do outro que passou,
senão duma presença
encorporada em tempo cenestésico
que acende.
dessa história, dessa memória narrada que me faz a mim [e aos outros poetas]
não tenho nada disso que se chama idade cronológica
idade fértil experiência de vida hora de entrar e sair do poema
não tenho nem nunca tive história
[e nem posso ter]
porque a posteridade é uma faca que agarra a pele
e a vivência não pode ser deste tempo
nem do outro que passou,
senão duma presença
encorporada em tempo cenestésico
que acende.
3.
é um Canto
ou uma posterior humanidade esta que escreve
"estou aqui",
que habita entre silêncios brancos
entre uma pegada de animal
e um corpo [para sempre animado],
um corpo desejoso de escrita
ou da destreza de um verso:
o-leve-bater de um ofício-ainda-novo:
a ânsia monástica da vivência.
ou uma posterior humanidade esta que escreve
"estou aqui",
que habita entre silêncios brancos
entre uma pegada de animal
e um corpo [para sempre animado],
um corpo desejoso de escrita
ou da destreza de um verso:
o-leve-bater de um ofício-ainda-novo:
a ânsia monástica da vivência.
4.
(para José Félix)
não me observo na escrita
- esse acto menor de fingimento -
estando dentro estando fora,
consciente da língua
e do fazer poético.
não existe um corpo
capaz de pensar a sua própria existência
nem um corpo que saiba:
no poema, a língua é a nossa forma
de representar o mundo.
o corpo apenas se submete
a três princípios essenciais:
nascer, viver, morrer
e ao instante, sempre.
não me observo na escrita
- esse acto menor de fingimento -
estando dentro estando fora,
consciente da língua
e do fazer poético.
não existe um corpo
capaz de pensar a sua própria existência
nem um corpo que saiba:
no poema, a língua é a nossa forma
de representar o mundo.
o corpo apenas se submete
a três princípios essenciais:
nascer, viver, morrer
e ao instante, sempre.
Contacto: teoriadomovimento@gmail.com