A AGONIA
Sua respiração
no meu ouvido
É barulho de mar
que vem vindo.
Você me asfixia
aos suspiros:
és meu desespero
tardio.
Choro junto aos teus olhos mudos
Que pesam nosso desassossego.
E percebo
no teu sorriso só
O estopim do amor-náufrago.
Dissolvo minhas mãos entre as tuas
Enquanto sorvo seu amor em mim
E depois
no teu peito talhado
Faço do meu pranto
salgado
teu novo canto pra respirar.
agora sei que teu amor
antes desconhecido
é todo o mar
que vem vindo.
DESERTEI
lascas de dentes caem nas árvores,
coloco minhas unhas dentro da boca murcha.
estou blindada pela janela rochosa
dentro da cabeça da medusa.
paredes pastosas me enforcam
e eu mergulho numa cascata de escuridão em gotas -
descasco as palavras que atiraram com força nas minhas costelas
enquanto aspiro o pó da carne borrachuda que me espera.
colaram nuvens debaixo dos meus pés
e elas se puseram a berrar tradições
que pariram mais de uma ave do meu joelho esquerdo:
dei a elas o veneno que carrego nas lágrimas.
como castigo agora carrego pedras no lugar dos brincos
e ouço o ronco do inferno.
deus tornou-se meu ventríloquo.
coloco minhas unhas dentro da boca murcha.
estou blindada pela janela rochosa
dentro da cabeça da medusa.
paredes pastosas me enforcam
e eu mergulho numa cascata de escuridão em gotas -
descasco as palavras que atiraram com força nas minhas costelas
enquanto aspiro o pó da carne borrachuda que me espera.
colaram nuvens debaixo dos meus pés
e elas se puseram a berrar tradições
que pariram mais de uma ave do meu joelho esquerdo:
dei a elas o veneno que carrego nas lágrimas.
como castigo agora carrego pedras no lugar dos brincos
e ouço o ronco do inferno.
deus tornou-se meu ventríloquo.
DEEP IN A DREAM
sopro de sangue
entre os buracos
dos dentes
luz que atravessa
a rigidez do corpo
com toques de pus
coágulos de silêncio
pelos cantos
que não ouvem
o amor da costela
quebrada
chorando o abandono
corrida anestésica
do escroto ao
sulco do rosto
obsessão pela culpa
tragédia consentida
pele ao avesso
gozo dos anjos
que pinga em bica
pelo trompete
paranoia solitária
vista desesperada
fúria debaixo das unhas
póstumo respeito
sôfrego alento
lento
de encontro
ao colo
do chão.
entre os buracos
dos dentes
luz que atravessa
a rigidez do corpo
com toques de pus
coágulos de silêncio
pelos cantos
que não ouvem
o amor da costela
quebrada
chorando o abandono
corrida anestésica
do escroto ao
sulco do rosto
obsessão pela culpa
tragédia consentida
pele ao avesso
gozo dos anjos
que pinga em bica
pelo trompete
paranoia solitária
vista desesperada
fúria debaixo das unhas
póstumo respeito
sôfrego alento
lento
de encontro
ao colo
do chão.
PRAZER, VOCÊ
dentro de mim mora o infinito
e dos olhos pra fora, um íntimo enquadramento
do desconhecido,
da ilusão condicionada
e consumida pelo hábito do absoluto
que desobedece minha imaginação,
tão genuína e desabitada
pela ideia de que o mundo é cão.
isso me acostumou a ignorar os detalhes,
fez do meu corpo aliado do tempo,
calou meus sentidos
me colocou os olhos de outro
que nunca me reconheceu
e eu solucei por isso:
por ter me reconhecido
como se eu tivesse nascido postumamente.
e dos olhos pra fora, um íntimo enquadramento
do desconhecido,
da ilusão condicionada
e consumida pelo hábito do absoluto
que desobedece minha imaginação,
tão genuína e desabitada
pela ideia de que o mundo é cão.
isso me acostumou a ignorar os detalhes,
fez do meu corpo aliado do tempo,
calou meus sentidos
me colocou os olhos de outro
que nunca me reconheceu
e eu solucei por isso:
por ter me reconhecido
como se eu tivesse nascido postumamente.
Fernanda Pacheco é professora, tem vinte anos e é formada em história. É autora do livro "A culpa é do Chet Baker", lançado pela editora Patuá. Tem poemas publicados na revista Diversos Afins e Mallarmargens.
