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7 poemas de Diego Callazans

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Ilusração : Michael Crab
 




[a um neófito]

a poesia – dizem
bom modo é
de pôr a alma a fora.

ora, também o é
um tiro na cachola
ou entregar a glote
a uma navalha.

escorre o Lete
da cuca vazia;
vai menos um poeta
à livraria.


[advertência]

nem toda obra é prima.

algumas porções de argila
encontram cansado oleiro.

nem todo mármore é Fídias.
nem tua vida, Odisseia.

as moiras também se perdem
se tecem sob encomenda.

nem todo herói é Aquiles.

mas mesmo maus mamulengos
têm uso em tramas pueris.

refugo – sei – é o que escrevo,
pois lesa é a musa que o diz.

nem todo verso é de Homero.

alegra-te, tu que lês,
nós somos da mesma merda.

a irrelevância é fraterna.


[gárgula]

amiga gárgula, te entendo bem.
a face trinca pelo horror que vês.
e que podes fazer? nem mesmo um grito!
e, se falasses, que terias dito?

se nota mais do alto as falhas do enredo?
e o néscio titereiro, podes vê-lo?
se ninguém ri da farsa dos moventes
é que não se acha cá um ator decente.

um aprendiz de farsante viu riso
em encerrar teu destino em granito.
como dói ter asas e o afã de ir alto
quando só a calha em que se está é um fato!


[prognóstico]


dizem que todos falaremos mandarim
                        muito em breve
seremos belos ciborgues

e viveremos dois séculos
em nossos domos ascéticos
sobre as savanas de Marte

teremos carros voadores
e mesmo teletransporte
                        great Scott

chegaremos já onde
nenhum mortal ousou ir

                        ao que consta

o futuro não é mais de Kubrick
é de Groening

                        quanto espero
por um concurso honesto
de Miss Universo


[elegia]


no
sujis-mundo
noir
3º excl-uso

A
 ¬ A
post A
i-ludo

Sig[N]ilo
Λ
crack

Confuzzy
com-puto


[epifania]

ela tem cachos como escaravelhos.
olhos de impérios contidos.
tem risos de foda com Pã.
às mãos, molotov e sementes.

ela tem napoleões no andar.
a alma em ruínas acesas.
um maço amassado que pulsa.

ela tem meu intento de instante
no branco dum dia sido.


[inefável]

a superfície é o que mais escapa.
a aparência em sinais se oculta.
só nos cativa o que se adivinha.

aquela moça a fumar calada...
o que seria antes da palavra?
como viria a mim sem que a nomeie?

ela é pessoa para aquém do gênero.
construto para aquém do móbile.
rasura para aquém da forma.

mas seu silêncio logo representa
e sua beleza vem como um adendo.
quero só ver o visto e nunca posso.






 
Autor do livro A poesia agora é o que me resta (Patuá, 2013), Diego Callazans nasceu no dia 26 de julho de 1982 na cidade baiana de Ilhéus. Mora em Aracaju desde os cinco anos. Jornalista não praticante, já dirigiu vídeos, atuou em espetáculos teatrais e desenhou quadrinhos. Tem poemas publicados na internet e em fontes impressas diversas. Os poemas apresentados aqui estarão em seu segundo livro, previsto para sair em 2015.




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