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Egon Schiele |
GANGUES ESTONIANAS, PUTAS DINAMARQUESAS
Eu sou um diretor de teatro
-porque a vida é um palco-
mas não aquele palco
mas não aquele diretor de teatro
Eu estou dirigindo a cena
numa crackolândia de classe alta
num restaurante içado
no fundo do meu crânio
quero mais
jamais
a atriz principal
nunca morrerá de tédio
Eu sou um diretor de teatro
-porque a vida é um palco-
feito de cacos-de-vidro
dissonantes pregos
Eu estou sendo dilacerado pelo público
num motel beira-de-estrada
na anca de uma puta dinamarquesa
entre bengas semi-eretas de uma gangue estoniana
quero mais
jamais
nunca haverá estréia
-porque a vida é um palco-
mas não aquele palco
mas não aquele diretor de teatro
Eu estou dirigindo a cena
numa crackolândia de classe alta
num restaurante içado
no fundo do meu crânio
quero mais
jamais
a atriz principal
nunca morrerá de tédio
Eu sou um diretor de teatro
-porque a vida é um palco-
feito de cacos-de-vidro
dissonantes pregos
Eu estou sendo dilacerado pelo público
num motel beira-de-estrada
na anca de uma puta dinamarquesa
entre bengas semi-eretas de uma gangue estoniana
quero mais
jamais
nunca haverá estréia
Variações sobre um trompete
Subterrâneo tremor na escada rolante
vestido vermelho cobre os montes nevados
acidez mecânica da saliva
Sopro do minuano minguante
laringe prata com acesso rodoviário
formiga os pés
que cai do prédio no fosso
sol brilhante cravejado com dentes
o batom no bolso do serafim
Curtir o lábio em panela de ferro
filtro da tempestade singela
um búfalo encostado no teu pescoço
Manifestação
Nós somos um rio
e os crocodilos caipiras (a realidade)
copulam imersos
em nós.
e os crocodilos caipiras (a realidade)
copulam imersos
em nós.
CONSTRUÇÃO
A realidade é uma casa em construção
o barulho incomoda, as proporções estão estranhas
roupas no chão
cimento na pele
e as visitas só podem sentar
nos vãos
de mentes
o barulho incomoda, as proporções estão estranhas
roupas no chão
cimento na pele
e as visitas só podem sentar
nos vãos
de mentes
Cinema Capuccino
I
A expressividade lenta do progresso
as ondas calmas da manhã
e o vento caudaloso de um asilo humano
ainda que marcado pela sujeira
sagrada
me repetem luz potência parafuso
desconheço meu nas tuas costas refletidas
o espelho inflama a percepção do fluxo
espaçonave imediata dos prazeres comedidos
O que me importa na barba do Rei que voltará
via-mar
Rio-Niteroi
Arcanjos abrindo às águas
falta de água
neblina tóxica
mortes repentina de religiosos
os dentes caem
a história se revolta
a nudez é proibida
estradas recriadas em círculo
as ovelhas se tornam promiscuamente retóricas
não há mais poetas
potes vazios
elipse
salto das velhinhas, ônibus parado
reconsideração do crime
mortos reclamam da superlotação
isso.
II
A expressividade lenta do progresso
as ondas calmas da manhã
e o vento caudaloso de um asilo humano
ainda que marcado pela sujeira
sagrada
me repetem luz potência parafuso
desconheço meu nas tuas costas refletidas
o espelho inflama a percepção do fluxo
espaçonave imediata dos prazeres comedidos
O que me importa na barba do Rei que voltará
via-mar
Rio-Niteroi
Arcanjos abrindo às águas
falta de água
neblina tóxica
mortes repentina de religiosos
os dentes caem
a história se revolta
a nudez é proibida
estradas recriadas em círculo
as ovelhas se tornam promiscuamente retóricas
não há mais poetas
potes vazios
elipse
salto das velhinhas, ônibus parado
reconsideração do crime
mortos reclamam da superlotação
isso.
II
Me acordas
chimarrão
olho o mar
refletido
teu cabelo
silêncio cansado
manhã calma
a areia seca
uma velhinha leva Deus para passear
dois séculos atrás
foi uma noite
te conheci no bar
o piano caiu da janela
matou a cisma
te contei minha vida em parábolas
fumamos crack com o mago Simão
contei teus dedos
aparei tuas unhas
tive fome
tive sede
bebi tua formação acadêmica
te mostrei meu vírus de estimação
meu gato no aquário
meu gato no fígado
minha máquina de escrever eletrônica
assistimos a morte do poeta pela tevê
sonhamos acordados
recriamos a nudez de tua mão com sombras
faltava uma parede no loft
casa em formato de cubo
dois andares infinitos
elevadores quebrados
me perguntas quem eu sou
te respondo quem eu sou
vinho
margaridas
reconhece o mar negro na ponta do banheiro
tens certeza
eu fico mudo
Me acordas
III
Eu espero que me busquem no aeroporto são seis horas de algum dia nublado não há mais o mar do alto que vi durante minha decolagem aterrissagem estou morto de cansado penso em escrever um livro comer tomate visitar uma prima em Barcelona reconhecer firma melhorar minha assinatura alimentar meu crocodilo comprar um apartamento no Rio de Janeiro perto reformular minha aparência deixar minha barba crescer explorar uma caverna na fronteira com a Bolívia fico preocupado com a saúde da primeira ministra de Israel coço a nuca vejo outra garota nua os carros me passam não ninguém me esperando a cidade está deserta e há mísseis em minha direção morrer aqui assim com uma pasta cheia de roteiros de cinemas eu fico confuso e entristeço de repente fico amuado tenho 15 anos quero me suicidar que matar um corvo visitar o cemitério foder minha professora de física recalcular a horta de minha vó quero ser rei na Noruega e declarar enfim guerra a tudo que não é África reconheço o moço que matou minha bisneta são tanta ruas não posso atravessar os carros estão com pressa eu quero beber o leite mágico envenenado com maças e quem sabe o que sabe eu tenso na rua noite possibilidades gatunos me comovem roubam todo a minha herança eu nem tenho mais para onde ir ninguém veio me buscar minha barba bate no chão quem vai acreditar quando eu contar as referências eu tenho o segredo da vida da morte do sexo eu tenho as chaves para um novo mundo o atalho para a estrela onde moram nossos avós você ia chorar se soubesse que sei quem é seu pai eu sou seu pai garota que me deixou me trocou um esgrimista caolho sem braço barriga tatuada com o alephfalso eu ainda sei contar o tempo passa rápido aeroporto nem existe mais construíram uma igreja saxã com gramado que por hora me recobre eu penso em você aqui parado todo céu está roxo cheiro de algum gás mortífero tenho saudades dos animais marinhos que percorriam longas distâncias no teu cabelo cheiroso preto preto preto preto sobretudo preto eu reconheço eu reconheço e entro em um transe esquisito falo palavras que não fazem sentido quando ditas em latim vulgar AH MEU PAI ROMANO AJUDA-ME!
IV
Avaliamos a possibilidade e acreditamos que sim, haverá.
Sim?
O filme será rodado.
Ah...
Assim que o dia amanhecer.
Ah...
Já pensou em alguém para o papel de Olívia?
Sim.
Vamos repassar o contato dela
444444-5434
Já ligamos, ela aceitou.
que ótimo!
V
A solidez plana das tuas pernas cruzadas
teu plano americano
me sorri
sorte nossa
estarmos aqui
na tua nudez nevada
esquio as ruelas de sua pretensão
teus olhos me padecem um mal gostoso.
Tudo é isso.
Tudo é agora.
A efemeridade permanente deste longo
claro
ardente
sorriso.
Tu me acordas
e o espelho inflama a percepção do fluxo
Vince Vinnus: Bacharel em Tradução e Interpretação, nasceu em São Paulo e passou boa parte da vida na cidade de Caieiras, região metropolitana. Também tem formação em teatro, e desde os 13 anos, quando entrou na companhia Arcanjos do teatro realiza esforços cênicos; Escreveu as peças “Canibais Vegetarianos” e “Relicário de Concreto” que foram encenadas pelo Grupo Pandora com incentivo dos programas PROAC e FOMENTO, respectivamente, e circularam por diversas cidades do interiro e tiveram breves temporadas no CEU Perus e no Espaço Cultural Quilombaque. Participou, em 2010, da primeira coletânea de poema eróticos da editora Usina de Letras, e atualmente exerce as funções de dramaturgo e diretor teatral na companhia Desejo-Motor em São Paulo. e-mail | blog