Combinação
Combinamos no nosso coração,
nos pensamentos então nem se fala.
Fazemos coisas, batemos na ação;
mas é no verbo que a gente entala.
Combinaremos no eu e no tu?
Veja bem, estudemos a questão:
no imperfeito eu sou igual a ele,
quando eu estava, ele também estava.
Mas tu podes alegar que é imperfeito.
Porém acontece que no perfeito,
também combino com ele.
Pois houve é igual para ambos
e é houveste para tu.
E pior fica no mais que perfeito!
Pois no ser, no ter, no haver e no estar;
somos iguais em tudo, eu e ele.
Nada combino contigo.
Mas o ridículo de tudo isso...
... é que se termino contigo para ficar com ele;
passo a combinar em tudo contigo!!!
Pequeno mundo de amor
No princípio era o beijo
doce e profundo
Logo após o perdigoto veio
no bafo um pouco imundo
Por fim, o cuspe no seio
acabando com o mundo.
SONATA ou TOCATA?
Mozart me move
Tchaikovsky me toca
Ravel me revela
Schumann me chama
Lizt me enleva
Beethoven me beija
Verdi me verte
Chopin me chuvisca
Paganini me paralisa
Schubert me aconchega
Vivaldi me dá vida
Icaro
O voo valeu a queda?
O vento evocando velozes desejos
Flui, vagando, flanando...
Afoito eventual
Um vulcão no céu.
Um vulto vermelho
Pincelada de Van Gogh
Vaza pelo azul.
Advertência.
O voo valeu a queda?
Pai... preciso do perdão.
Perdoo, abençoo
Vermelha vontade que risca o céu.
Liberto, expresso, criativo.
“Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?”
Voluteando lutas internas,
Aventurando-se em vidas
Curitiba Blues
Gotas como notas de blues
Repetitivas, em tom baixo e melancólico.
A escravidão da chuva que permeia a alma.
Micro tons molhados... terceira gota... sétimo pingo...
Um lamento murmurado...
Um murmúrio macabro.
Mimos da cidade lamurienta,
Macerando vontades de liberdade.
Em resposta, madurando ideias
Como um madrigal para uma Curitiba
Menina-moça-mulata-mameluca malfadada pela chuva.
Que maliciosamente se infiltra, mancheias de pingos...
Maquiagem lambuzada de mel
Marmorizado azul de céu plúmbeo.
Libertando das amarras de máscaras
Mudadas do politicamente correto.
Mezzosoprano, mezzotinto, mezzorima
Cidade de metades, micantes/esfumaçadas.
Rosário, migalhas de milagres, mingo de sol.
Dó, réstia de sol, mina de fábulas, sol lá, sina aqui.
Curitiba de miss, de missa, de miseráveis.
Missiva de miudezas. Modulações gotejantes.
Mofo de momentos. Mudez de mundos.
Música mutacionada em mediúnica mania curitibana.
Curitiba mimética, uma matula de estações diárias.
Meados de secos e molhados.
Sem medos ou melados, meia-noite, meio-dia
Melicantode blues, com suas mênades e matulões.
Curitiba, de Leminski, de morcegos mordedores de histórias alheias.
De poemas e memórias. Mergulhando em melodias.
Mescla de metamorfoses ambulantes.
Enfim... Curitiba metafísica do blues.
ananse
laguinhos brincam de balanço
no crochê de fio de prata
lendo as estórias de Ananse
P O E S I A
PRCEO MUES DOEDS NO TLDEACO.
Susan Blum Pessôa de Moura, formada em Psicologia (PUCPR – 86) e em Letras (UFPR – 2003). Mestre em estudos literários (UFPR – 2004). Possui publicações acadêmicas em revistas literárias como Fragmentos (UFSC), Letras (UFPR), Magma (USP) e Alpha (Unipam). Autora do livro de contos Novelos Nada Exemplares (2010) e participante da coletânea de contos (de autores paranaenses) Então, é isso? (2012). Professora da Universidade Positivo, pesquisadora no Grupo de Estudos sobre o espaço (UFPR) desde seu início, em 1999, ministra cursos de criação literária no CELIN da UFPR (desde 2008) e escreve mensalmente para a Toda Letra.
Combinamos no nosso coração,
nos pensamentos então nem se fala.
Fazemos coisas, batemos na ação;
mas é no verbo que a gente entala.
Combinaremos no eu e no tu?
Veja bem, estudemos a questão:
no imperfeito eu sou igual a ele,
quando eu estava, ele também estava.
Mas tu podes alegar que é imperfeito.
Porém acontece que no perfeito,
também combino com ele.
Pois houve é igual para ambos
e é houveste para tu.
E pior fica no mais que perfeito!
Pois no ser, no ter, no haver e no estar;
somos iguais em tudo, eu e ele.
Nada combino contigo.
Mas o ridículo de tudo isso...
... é que se termino contigo para ficar com ele;
passo a combinar em tudo contigo!!!
Pequeno mundo de amor
No princípio era o beijo
doce e profundo
Logo após o perdigoto veio
no bafo um pouco imundo
Por fim, o cuspe no seio
acabando com o mundo.
SONATA ou TOCATA?
Mozart me move
Tchaikovsky me toca
Ravel me revela
Schumann me chama
Lizt me enleva
Beethoven me beija
Verdi me verte
Chopin me chuvisca
Paganini me paralisa
Schubert me aconchega
Vivaldi me dá vida
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foto: Sergio Sade |
Icaro
O voo valeu a queda?
O vento evocando velozes desejos
Flui, vagando, flanando...
Afoito eventual
Um vulcão no céu.
Um vulto vermelho
Pincelada de Van Gogh
Vaza pelo azul.
Advertência.
O voo valeu a queda?
Pai... preciso do perdão.
Perdoo, abençoo
Vermelha vontade que risca o céu.
Liberto, expresso, criativo.
“Mas que céu pode satisfazer teu sonho de céu?”
Voluteando lutas internas,
Aventurando-se em vidas
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foto: Sergio Sade |
Curitiba Blues
Gotas como notas de blues
Repetitivas, em tom baixo e melancólico.
A escravidão da chuva que permeia a alma.
Micro tons molhados... terceira gota... sétimo pingo...
Um lamento murmurado...
Um murmúrio macabro.
Mimos da cidade lamurienta,
Macerando vontades de liberdade.
Em resposta, madurando ideias
Como um madrigal para uma Curitiba
Menina-moça-mulata-mameluca malfadada pela chuva.
Que maliciosamente se infiltra, mancheias de pingos...
Maquiagem lambuzada de mel
Marmorizado azul de céu plúmbeo.
Libertando das amarras de máscaras
Mudadas do politicamente correto.
Mezzosoprano, mezzotinto, mezzorima
Cidade de metades, micantes/esfumaçadas.
Rosário, migalhas de milagres, mingo de sol.
Dó, réstia de sol, mina de fábulas, sol lá, sina aqui.
Curitiba de miss, de missa, de miseráveis.
Missiva de miudezas. Modulações gotejantes.
Mofo de momentos. Mudez de mundos.
Música mutacionada em mediúnica mania curitibana.
Curitiba mimética, uma matula de estações diárias.
Meados de secos e molhados.
Sem medos ou melados, meia-noite, meio-dia
Melicantode blues, com suas mênades e matulões.
Curitiba, de Leminski, de morcegos mordedores de histórias alheias.
De poemas e memórias. Mergulhando em melodias.
Mescla de metamorfoses ambulantes.
Enfim... Curitiba metafísica do blues.
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foto: Susan Blum |
No meio da folha tinha um branco
No meio da folha tinha um branco
tinha um branco no meio da folha
estava tentando escrever quando apareceu no meio da folha um branco
um branco apareceu no meio da folha...
tinha um branco
tinha um branco no meio da folha
Sempre lembrarei desse acontecimento
na vida de escritor que tento seguir
sempre lembrarei desse acontecimento
que no meio da folha
deu um branco
deu um branco no
meio da folha
no meio da folha tinha um branco
tinha um branco.
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fotos: Susan Blum |
MIMETISMO
Nesse cemitério em que estamos
nada mais somos
do que espetaculares espectros,
especulares de nós mesmos,
esporadicamente reais!
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foto: Susan Blum |
ananse
laguinhos brincam de balanço
no crochê de fio de prata
lendo as estórias de Ananse
P O E S I A
PRCEO MUES DOEDS NO TLDEACO.
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peças de cerâmica - Glaucia Flügel, composição - Susan Blum |
Susan Blum Pessôa de Moura, formada em Psicologia (PUCPR – 86) e em Letras (UFPR – 2003). Mestre em estudos literários (UFPR – 2004). Possui publicações acadêmicas em revistas literárias como Fragmentos (UFSC), Letras (UFPR), Magma (USP) e Alpha (Unipam). Autora do livro de contos Novelos Nada Exemplares (2010) e participante da coletânea de contos (de autores paranaenses) Então, é isso? (2012). Professora da Universidade Positivo, pesquisadora no Grupo de Estudos sobre o espaço (UFPR) desde seu início, em 1999, ministra cursos de criação literária no CELIN da UFPR (desde 2008) e escreve mensalmente para a Toda Letra.