O PERFUME
O perfume, o perfume almo
Que às regiões do mistério
Me eleva, qual luar calmo,
Que a outro vago império
Leva o meu ser, palmo a palmo,
Como uma alma ao etéreo
Eternal subindo, ao salmo
Angélico, nostálgico, aéreo...
Esse perfume cujo mundo,
Talvez, em idílio risonho,
É o amor quando profundo...
É a ilusão com que transponho
O meu mais vago segundo,
No não-ser de todo o sonho!
23/08/2013
IDÍLIO
Por entre as flores fanadas,
Fulguram serenas estradas.
Caminhos tediosos do sonho,
Do sentimento enfadonho...
Do amor os beijos esquecidos:
Fantasiosos e vis sentidos.
Dos anjos o sono profundo:
Funérea sombra do mundo.
Da morte as mais doces ilusões:
Cantam lembranças e corações.
Lá, a noite fulge alegria:
Sabe que será berço do dia.
E mesmo a tristeza, o pranto,
Têm como forma o encanto.
Melodias tácitas nos cantam
Como suspiros que acalantam.
Visões de eternas venturas
Nos chamam em tenras formosuras.
É alto o voo dos passarinhos:
Nunca encontrarão seus ninhos.
E lá, enfim, a alma se desfaz...
Sussurram vozes alentadas,
Aos hálitos frescos e jasminais,
Como alígeras alvoradas.
25/08/2012
A MORTE ME DISSE, CERTA VEZ...
A Morte me disse, certa vez,
Que embora muita vida pulsasse,
A vida é um reino fugace
Que - não importa a era - não tem reis.
Neguei, julgando ser insensatez
Que a Morte assim me falasse
Sobre a vida sem que a face
Do viver me contasse suas leis.
Mostrei à vida, então, um retrato:
Na mesma sala, eu bem infante,
Com o olhar em fulgor inexato...
“É a crença que reina os mundos!”
E ela: “É morto o instante,
Nada o agora. São reis os segundos!”
26/07/2013
DEIXA-ME ASSIM, COMO QUERO...
Deixa-me assim, como quero,
Nesse estado vil de solidão
Ao qual, no meu débil coração,
Já faz-se um lar, um céu vero.
O prazer daqui não é mero:
Eis à frente a vasta amplidão,
Os célicos cânticos de ilusão,
A dor do peito a que esmero.
Deixa-me, pois, tão solitário
Quanto o teu desgosto vário
Que no passado é disperso...
Deixa que, embora sozinho,
Bebamos do mesmo vinho
No êxtase eterno do Verso!
05/11/2013