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2 poemas de Guilherme Mateus

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ceci n’est pas un poème

absorvido
a vida é o que minha bisa-avó carrega nas costas
noventa e me perdi
absorção
minha dor é morna, aquecida no forno microondas
onde esquento o café à tarde.
a veia da vida é um escopo
perd                               ido
(dizem que a ida não tem volta)
ung                                ido com leite materno
"bença mãe"
a ida tem volta sim
só-não-sei-onde-para.
pa                          rou
um dia uma senhora disse
"existem também os homens burros"
mas eu os via montados em cavalos.
tenho saudades de jogar dominó
com a minha avó
em dias de          dor                   mingo.
hoje ela a            dor      mece     cedo
e não pode mais jogar.
"bença vó
"bença vô"
eu não peço a benção à minha mãe.
"boa noite gui"
"boa noite mãe"
.


ritual

te quero
corpo alado
às preces do cristo
te quero penetrar
com duas-mil-tarântulas
pedir-te no altar
goles de alguma coisa
ácida
para que eu chore
te quero
de pernas abertas
no escuro com cinco velas
agora
postos de joelhos no chão
ergamos as mãos
em devoção ao deus:
perdoa-me por rezar
apressado o pai nosso
e a ave maria.
crucificados
corpo (c)alado
nos beijemos de frente ao pai:
dizem que a união
é selada
com sangue.


*imagem: Giorgio Cecchinato - Memories of the Thirst (2011)



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