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MELANCOLIA É TER O OUTONO NA ALMA, POR HELENA BARBAGELATA

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Solitudine, pintura de Helena Barbagelata



Melancolia é ter o outono na alma
Um barco solitário, uma só linha, o coração cheio da minha terra natal.


Melancolia é ter o outono na alma,
as folhas rebolando como moedas
de oiro, entabuando as vielas de
círios alegres, cobrindo os pés gastos
dos mendigos, feitas sandálias de sol;
arrastam os vestidos de noite, rotos
e apressados para o banquete da fome,
e as árvores entretecem-lhes colchas
breves de flores que o vento leva
sôfrego nos dedos; melancolia é ter
o outono na alma, as carruagens
imóveis, alguém chegou à sua angra,
abandonou os remos da viagem,
uns riem deliciados, outros falham
a tabuada das horas, nós ainda não
somos mortais e não temos espaço
para ser vivos; de frente ao vento
um homem inala a fragância miúda
e acidulada do humo, e chora;
melancolia é ter o outono na alma,
ceifam-se os caules da tarde e
crescem as marés no seu veludo
de prata, trazem as memórias em
redemoinhos, os cabelos da alma
despidos de tempo; o coração cada
vez mais ancho, alagado de tristezas,
de folia, ama como um sobreiro
que se oferece e sangra; melancolia
é ter o outono na alma.







Helena Barbagelata nasceu em Lisboa a 6 de Dezembro de 1991. É uma artista multidisciplinar, dedicada às artes plásticas, música e letras. Participa em revistas e antologias literárias em Portugal, Brasil e Itália, tendo sido laureada em diversos concursos internacionais. Foi a mais jovem vencedora do “Prémio Poesia e Ficção de Almada” (Edição de 2012), com a obra “O Mar de Todos os Deuses”, atribuído por unanimidade pela Associação Portuguesa de Escritores, Sociedade de Língua Portuguesa e pela Câmara Municipal de Almada. Tem publicada a obra Soliloquia (Apenas-Livros, 2013).


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