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FAEX (por paulo guicheney)

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O pai aproxima-se do filho. A mão esquerda aperta o pescoço. A mão direita, o braço.


Grita, calmamente: “Vê? Vê estirado no chão? Vê o que apodrece o ar? Vê?”

Pesam-me dentro de um caminhão. Recepcionam-me. Não entendo esta língua. Falam português. Estou em um lugar.

Observação. Descanso. Explodem: “Urgência!”.

O pai ama o filho. Não há este mandamento. Mas. O pai ama o filho. Fratura o braço direito. Há beleza no gesto. Preciso reconhecer.

Delicado.

Pesam-me. Banham-me em aspersão. Água hiperclorada. Estou limpo. É preciso morrer. Limpo. Quando criança minha mãe insistiu. Urina. Efluentes líquidos. Estou limpo. Sou o homem mais limpo da Terra. Minha mãe não pode mais ouvir-me. Minha mãe faz parte de um outro mundo. Hoje. Estou limpo. Estou na área do vômito.

É setembro. Nocauteiam-me com um martelo elétrico. Estou em um lugar. Minha cabeça toca o solo. Estou em um lugar que desconheço.

Sou obcecado com nomes. Quando criança odiei meu nome. Tudo. Sou feito de vísceras. Comestíveis. Sou feito de vísceras. Não-comestíveis, condenadas. Tenho o nome de meu pai.

Amarram-me pelos pés. Meu corpo é içado. Sangramento. A terra abre a boca e bebe meu sangue.

Cortam o couro. Cortam a artéria. Deslizo sobre uma Himmelstraße. Levam-me. Cortam minha mão direita. Cortam meu pés. Levam-me. Cortam minhas pernas. Cortam minha mão esquerda. Cortam meus braços.

Prendem-me à uma roldana. Sonhei que meu pai tinha meu intestino em suas mãos. Este não é um mandamento. O pai ama o filho. Evisceração.

Anulam o ânus. Atam o intestino grosso. Cortam meu pênis. Selam minha bexiga. Arrancam o couro. Serram o peito. Cortam o esterno. Amarram o esôfago.

Cortam minha cabeça. Um médico examina-me. Inspeciona minha língua. Não tenho voz. Sou mudo. Agora. Tento em vão explicar. Inspeciona minhas vísceras. Meu aparelho digestivo. O fígado. Coração. Sou destripado. Estou em um lugar. Sou uma carcaça. Serram-me.

Meu pai observa. Grita, carinhosamente: “Vê?”. Observa. Segura meus intestinos. Sonho. Este não é um mandamento. O pai ama o filho. Sou feito de gorduras. Mucosas. Excrementos.

Serram-me. Arrancam os rins. Um médico inspeciona meus gânglios. Todos morrem pelos rins. Um médico inspeciona meus rins. Tento em vão explicar. Minha família morre. Pelos rins. Aguardo.

Lavam-me. Lavam o que sobrou. Do homem. Lavam. E lavam. Em algum ponto escorre o que sobrou. De mim. Efluentes líquidos.

O pai grita: “Você é surdo? Vê?”

Classificam. Pesam. Embalam. Resfriam: 10º C. Resfriam: 0º C.

O pai ama o filho. Este não é um mandamento. A mão no pescoço. O braço fraturado. O pai. O filho. Todo homem está destinado à Graxaria.


Estou em um lugar.
O pai aproxima-se do filho.
Levam-me.
***

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