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Imagem: Adriana Varejão |
O banhista noturno
Do chuveiro
caem canções anacrônicas
em pingos verde-século passado.
Entre o blindex
e o registro,
a alma fora do tom
se liberta
de blindagem e despojos,
despejados
em árias-assovios
renascentes.
A propriedade da água
lava a cena imprópria
do canto entrando pelo cano,
limpa o gesto contra o esgoto,
esgotamento.
Erosão e desgaste
a vida líquida.
A toalha -
talhe ou rasura
que voa
como sepultura
diante do espelho:
carimbo de realidade.
(Estivesse você aqui agora
canções nos rasgariam em gotas
da pélvis até a boca.)
Apuro
Para apurar
um poema
depauperado,
temperá-lo
até calar
os apupos
da plateia,
passará o poeta
por mil apuros
que o poema
para ficar no ponto
se depura no escuro.
Na escada rolante ao lado
fascínio
a blusa de crepe,
neve
atravessando
o colo
o coração colonizado