Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Três poemas de José Antônio Cavalcanti

$
0
0
Imagem: Adriana Varejão


O banhista noturno

Do chuveiro
caem canções anacrônicas
em pingos verde-século passado.


Entre o blindex
e o registro,
a alma fora do tom
se liberta
de blindagem e despojos,
despejados
em árias-assovios
renascentes.


A propriedade da água
lava a cena imprópria
do canto entrando pelo cano,
limpa o gesto contra o esgoto,
esgotamento.


Erosão e desgaste
a vida líquida.


A toalha -
talhe ou rasura
que voa
como sepultura
diante do espelho:
carimbo de realidade.


(Estivesse você aqui agora
canções nos rasgariam em gotas
da pélvis até a boca.)




Apuro

Para apurar
um poema
depauperado,
temperá-lo
até calar
os apupos
da plateia,
passará o poeta
por mil apuros
que o poema
para ficar no ponto
se depura no escuro.




Na escada rolante ao lado

fascínio
a blusa de crepe,
neve
atravessando
o colo


o coração colonizado
 

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548