3 Poemas de Jorge Elias Neto*
versões de Pedro Sevylla**
Tanta falta de sentido meu amor
São tantas cruzes meu amor
tantas cruzes,
e eu que nem tenho deus
para poder sugerir-me um talvez...
Murcharam os olhos do poeta.
Acabou-se meu amor,
acabou-se.
Devolvida a esperança
às mãos dos homens,
contorno o leito do poeta morto
para alisar-lhe a mão.
Despeço-me, meu amor.
Esse lugar já no é meu.
E eu que pensava que entendia a morte...
Fico agora recostado no canto,
como uma besta,
perdido.
Qué poca sensatez amor mío
Amor mío, son tantos los tormentos
tantos,
y yo que vivo sin dios
para poder indicarme uno quizá...
Envejecieron los ojos del poeta.
terminó, amor mío
terminó.
Devuelta la esperanza
a la voluntad de los hombres,
rodeo el lecho del poeta muerto
para distenderle la mano.
Me despido, mi amor.
Ese lugar ya no es mío.
Y yo que creí comprender la muerte...
Quedo ahora apoyado en la esquina,
como un animal,
abandonado.
* * *
Moribundo
Se te lembrares de mim,
traz-me orquídeas num tubo de ensaio –
dessas que são isoladas, para não se ocupar
da impureza de nossos días –
e injeta em mina veia.
Coloca un fone en meus ouvidos
que me sussure brisas.
Mostra-me fotos de casa
e conta de nossas sombras.
Se te lembrares de mim,
lê-me a Máquina do Mundo.
Não te prendas aos meus olhos fechados;
na escuridão, recicla-se a luz de entardecer.
No limiar da consciência
o nada-fundo se disfarça em paz.
Se te lembrares de mim,
ignora a falsa ausência de gestos.
Abafa os sons
dos aparelhos que me amparam
com um lindo sorriso.
Se te lembrares de mim,
diz a quem interessa, que os amo.
Se te lembrares de mim,
deixa-me de recordação teu cheiro.
despois, sei feliz e celebra a vida.
Pois logo chegará a morte
quem sabe a única esperanza…
Moribundo
Si me recuerdas,
tráeme orquídeas en un tubo de ensayo –
de las que crecen solas, para despreocuparse
de la corrupción de nuestros días –
y alimenta mi vena.
Inserta un audífono en mis oídos
que me susurre brisas.
Enséñame fotos de casa
y habla de nuestros secretos.
Si me recuerdas,
léeme la Máquina do Mundo.
No te aferres a mis ojos ciegos;
la oscuridad, renueva la luz de los atardeceres.
En el umbral de la conciencia
lo superficial se enmascara confiado.
Si me recuerdas,
desdeña el disfraz ausente de los gestos.
Silencia los sonidos
de los mecanismos que me mantienen
con una sonrisa abierta.
Si me recuerdas,
di a quien quiera saberlo, que los amo.
Si me recuerdas,
déjame la memoria de tu olor.
En lo sucesivo, sé feliz y glorifica la vida.
Pues la muerte llegará ligera.
Quizás el único alivio…
* * *
Le papillon blessé
Na atual névoa
das simetrías.
Quando se veem pungentes
os pasos que reverberan certezas,
parece um capricho,
essa fieira de insignificancias
(o rastro da borboleta)
Por isso, o silêncio resoluto
desse corpo flácido do homem
diante de nós
(o retorno à condição humana é o recurso último
ao qual se entrega a borboleta em momento de
agonia).
Esses tantos
que se debruçam
sobre seu leito
não se apercebem da fraude.
(Na verdade,
o poeta não carece de existencia corpórea.)
São bobrboletas que persistem
suspensas na cor indistinta do tempo.
Sempre restará o marolar das asas,
cortejando com seus signos
aquele que, no absurdo da vida
se aperceber
só.
Le papillon blessé
En la presente niebla
de las simetrías.
Cuando se sospechan punzantes
los pasos que reverberan certezas,
parece un capricho,
esa hilera de insignificancias
(la huella de la mariposa).
Por eso, el atrevido silencio
de ese cuerpo lánguido del hombre
ante nosotros
(el retorno a la condición humana es el recurso último
al que se entrega la mariposa en los momentos de
agonía).
Todos esos
que ocultan el rostro
en su lecho
no se dan cuenta del fraude.
(En realidad,
el poeta no vive sin cuerpo.)
Son mariposas que permanecen
atrapadas en el color indefinido del tiempo.
Siempre quedará la cadencia de las alas,
deleitando con sus gestos
a quien, en lo absurdo de la vida
se sabe
solo.
foto: David LaChapelle
* * *

* Jorge Elias Neto é médico, pesquisador e poeta. Capixaba, reside em Vitória/ES. São de sua autoria os livros: "Verdes Versos" (Flor&cultura ed. – 2007), "Rascunhos do absurdo" (Flor&cultura ed. – 2010), "Os ossos da baleia", "Glacial" e "Breve dicionário poético do boxe" (inéditos). Integrou as publicações Antologia poética Virtualismo (2005), Antologia literária cidade (L&A Editora – 2010), Antologia Cidade de Vitória (Academia Espiritossantense de letras – 2010 e 2011) e Antologia Encontro Pontual (Editora Scortecci – 2010). Publica regularmente nas revistas eletrônicas: Portal Cronópios de Literatura, Diversos afins e Estação Capixaba. Blog. Email.

** Pedro Sevylla de Juana nasceu em Valdepero (Palencia), na Espanha, em Março de 1946. Desejoso de resolver as incógnitas da existência, começou a ler livros aos onze anos. Para explicar suas razões, aos doze se iniciou na escritura. Viveu em Palencia, Valhadolid, Barcelona e Madrid; passando temporadas em Genebra, Estoril, Tânger, Paris e Ámsterdan. Publicitário, conferencista, articulista, poeta, ensaísta e narrador; publicou dezassete livros. Reside em El Escorial, dedicado por inteiro a suas afeições mais arraigadas: viver, ler e escrever. Página do autor.