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Screenshot "OPHELIA: Exhibition / Video Sculpture Installation" |
deveríamos ter a mesma idade,
seis, sete.
a mãe desceu do ônibus mas ele deu partida
com a filha dentro.
os passageiros começaram a gritar:
“pelo amor de deus, motorista,
para esse ônibus!”
a garotinha chorava de medo.
eu chorava de medo.
e a gente se parecia tanto
que agora vejo que ela sou eu.
a mãe desesperada correndo atrás do ônibus
sou eu.
corro, bato,
quebro os dedos
querendo-me de volta,
o ônibus não para.
o ônibus nunca para.
*
não querida, às vezes é um leão-marinho
que te mantém à superfície com ossos quebrados
à espera de um barco.
deus nem sempre é homem.
*
vez ou outra
a felicidade aparece em cima do monte
acena para avisar que está
nas redondezas
e logo vai embora
já a tristeza não abandona
nem quando vê a inimiga
ri da cara da felicidade
como se dissesse:
até aqui você não chega.
a tristeza é uma velha
que toda noite se enfia na cama
abraça minhas pernas
e ronca
nas noites mais turbulentas
a tristeza não pensa
invade a banheira
afaga minha cabeça
e se demora demais
a morte logo aparece dentro do box
querendo passear comigo
mal sabem elas
que sou sereia
e respiro debaixo d’água.
*
- os três poemas dessa postagem fazem parte do livro "o afogamento de virginia woolf", que será publicado pela Editora Patuá em setembro de 2019
mariana godoy, atriz, nasceu em 1996 numa cidadezinha interiorana de são paulo chamada pacaembu. pequena, passava tardes com o pai nadando no velho rio da fazenda. é no fundo desse velho rio que está até hoje recolhendo pedras.