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Arte de Lukas Kándl |
Maria,
teus seios áureos, abismos de seda.
Tuas selvas e relvas, fiações elétricas,
o bosque suculento dos teus beijos.
Tua boca cravejada por escaravelhos cintilantes.
Sigo tateando tuas fomes,
roçando com mãos de relâmpago
bem dentro do sonho.
Essas belicosas placas tectônicas carnudas de teu sexo,
doces e furiosas frestas dissolvidas em lava alquímica.
Rochas íntimas mordiscantes,
secretos basaltos famintos fumegantes.
São beijos loucos legítimos pestilentos,
diabruras borbulhando em tua boca,
Maria,
devore as carapaças brilhantes dos besouros
lambendo suas asas,
vista a tempestade e o assombro.
Esqueça as migalhas de pão na floresta,
não há retorno.
Rasgue os mapas e o fogo nas páginas.
O inferno é versátil feito criança,
está sempre mudando de lugar.
Com um punhado de areia,
dilate as pupilas.
A vertigem é viscosa,
afunde os dedos,
Maria.
o tempo, labirinto
faz da linguagem, asa
amor, vernáculo
ilícito
que o corpo guarda
a página pulsa
galope bruto
traça
sem rédea
caligrafia do caos
gozo e agonia
encarno
todo o veneno e antídoto
que há nos livros
Escrevo
Para derrubar paredes
Cegar tua íris
Apunhalar as veias
Atear delírios
Traduzir-me em sílabas
Queimando dentro de ti
a beleza galopava aguda no meu sangue
dobrei os joelhos para ver
mulheres de Klimt
anjos de Breton
dois animais ganiam:
os punhos cerrados do amor
Minhas mãos tateiam os pulmões acesos do quarto,
em deja vu aveludado e voluptuoso.
Os sussurros alucinantes do fogo,
estão tatuados secretamente, nas paredes e no entorno.
A voz pétrea de Ariano me convida a espiar
por dentro das letras e labaredas de seu livro fabuloso.
O poema é um pequeno animal mágico,
verde viscoso, saltando das páginas.
A linguagem ilícita dos corpos, arderá por toda a noite.
Com o sexo em brasa, desenhei um meridiano obsceno neste leito.
Nua e clandestina, plantei uma tempestade em lençóis alheios.
Sou lua cheia
Dançando entre ninfas
Um grito minguante
Excitando marés
Nua e nova
Rujo ao orbe
Fênix crescente
Relampejo lírios
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Anna Apolinário (João Pessoa, 1986). Pedagoga, poeta, organizadora do Sarau Selváticas, de autoria feminina. Autora dos livros Solfejo de Eros (CBJE, 2010), Mistrais (Edições Funesc, 2014), Zarabatana (Editora Patuá, 2016) e Magmáticas Medusas (Editora Cintra/ARC Edições, 2018). Participou da antologia Sob a Pele da Língua: Breviário Poético Brasileiro (Editora Cintra, ARC Edições, 2019). Autora Integrante da Edição #126 da Agulha Revista de Cultura: Surrealismo e Jovens Poetas Brasileiros I, Edição Comemorativa do Centenário do Surrealismo (1919-2019).