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asas prontas para o verbo - a poesia de Débora Gil Pantaleão

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Arte de Blick

eu vou abandonar o exagero
desistir da américa latina
incendiar os estados unidos
carregar o vento entre os dentes
gritar até que ouçam na europa e em suas ilhas
eliminar os desejos
esfaquear a poheresia
eu vou destruir os cargos
os carros a transfobia
transformar vômitos em alimento para famintos
legalizar as drogas
amparar a cracolândia
resolver o machismo
resetar as mentes das mulheres violentadas
eu vou reciclar todo o lixo
salvar os animais dos açougues
plantar três bilhões de árvores
vão achar que estou louca

"Lonely Woman in Flower Dress", de János Huszti


acento

tua
ausência
em
tantas
línguas
pouco
importa

"Bird Nightmare", de Myck Ryan


pirotecnia

aliena-me
para que não soframos o passar
das primaveras
nem ouçamos os gritos surdos
dos filhos e filhas das cores
aliena-me
dentro de alguma forma clássica
dentro de alguma forma breve
para que não sintamos as fomes
dos mendigos dos adictos
nem o sexo assado das putas
aliena-me
enquanto amorteces as feridas
de nossas partidas
enquanto não choramos
as mortes de nossas velhas
aliena-me
e nunca nunca jamais
permita-me
desalienar

"Bird Woman", de Steve Kenny


pontiagudo

sobre
não
achar
canto
na
vida
viver
sem
tecido
pássaro


________________
Débora Gil Pantaleãoé doutoranda, com foco em estudos literários, pelo Programa de Pós Graduação em Letras (PPGL), Universidade Federal da Paraíba e possui graduação e mestrado em Letras. Também está concluindo o curso de especialização em psicanálise pelo Centro Universitário de João Pessoa (UNIPÊ) e recentemente iniciou uma Formação em Psicanálise pela Sociedade Psicanalítica da Paraíba. Foi professora substituta na instituição Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), na cidade de Campina Grande, em 2017. Publicou os livros “Se eu tivesse alma” (Cia do eBook, 2015; Benfazeja, 2016), “Vão remédio para tanta mágoa” (Escaleras, 2017), “Causa Morte” (Penalux, 2017) e “Nem Uma Vez Uma Voz Humana” (Escaleras, 2017). “sozinha no cais deserto” (Escaleras, 2018) é o seu mais novo livro de poesia. Já participou de laboratórios de dramaturgia, criação e vivências literárias e vem ministrando cursos e oficinas de criação literária desde 2017. É idealizadora e editora da Escaleras, editora independente que tem como objetivo a publicação de literatura brasileira contemporânea.

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