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Foto: Rogério do Amaral Ribeiro (Fonte: www.cameraviajante.com.br) |
NUM 116 (ALTOS)
Nos altos
Saco de pancada preto
Entre grades de
Proteção
Sofá de dois lugares
Também preto
Varal sem roupas
Apesar do sol que, às oito, socava
Saco, sofá, grade
Pregadores verdes sem o que fazer
Então dormiam
Pela rua a gente faz tempo inventava destinos
Mas nos altos do 116
Reino de intercessão
Como se ali estivesse tudo
A vácuo
Embalado pra esperar
Que é essa lista de afazeres
Das coisas
Estar ali quando a gente lá embaixo
(Saco de pancada, grade de proteção, sofá dois lugares, varal pregadores
Levando cedo surra de sol)
Passa
E não está
MASSACRE
massacre
acre
sobre nós: maças/patas/ rastros forçados
mas
o que que
ousamos?
e sobre: marcas/sulcos/cabeçaprabaixo
ocre
a rebentação
não dos mares
antes dos cascos/cancros/socos
m-a-s-s-a-c-r-e
nossas vértebras desenham
nos muros
vermelho-grito
aquele urro
que ainda canta e
crasso
renasce
REFLUXO
Há palavra
Na cava do corpo
Chumbo sólido
Peça de artilharia
Engatilhada
No meio do ser
Esta pedra de Carlos
Forma angulosa
Engatando nas quinas
Pré-signo
Intenção de verbo
Para que eu tropece na sombra
Enfim
Espinha varando o silêncio
O branco
Desfazendo caverna
E o que hibernava
Então vaza
Outra vez voz
Posto que o pedregulho
Era água
E o meu engano
Boia
O que antes abismava
MAS É QUE A CIDADE SUFOCA
mas é que a cidade sufoca
a sombra das coisas para dentro
das coisas
re (doma)
os pés esmagando
os pés
o grito
escombro do grito
então a cidade é nuvem metálica
tempestade numa caixa
chumbo em torno das horas
deserto oxidado e
íngreme
a partir de suas arestas
vertical
e o chão que aproxima
sonha
a ilusão de passos circulares
VIABERTA
eu corria caminhos vermelhos
rugas ruas cicatrizes
em postas
minhas pernas escorrendo rubores
suco de mim contra a calçada
a planta na cerca
a criança entre a mãe
lambuzadas
a luz do dia golfo nas janelas altas sobre
postas
minhas fendas rugindo às dez horas
eu vagando mal e porcamente
cabelos em frangalhos
roupas empapadas
o mar dos braços estapeando o vento
o sal do seio
o sol do olho
cru e exposto
deus tapando os pudores na cara das Senhoras
assim eu corria tramas de sangue
bem no espasmo do tráfego/sinal aberto
as escolas e o fio dos turnos funcionando
os bares e os bêbados submersos
a água pela altura da glote
vazão de feridas há muito
cavernas
peixes irrespiráveis
mares ascéticos assustados comigo
com minha palavra pela hora da morte
com a sobra de pano arrastando
na imundície
com a minha boca babando porcarias no meio da manhã
com o meu dedo girando no cu dos sinais delimitados
roçando cancros
pecados mal fechados
erodindo ângulos perpendiculares nas esquinas na forquilha
das frontes endurecidas
as pedras deslizando
descarrilamento
vão avançando contra a vontade
esta minha carreira explícita e desnuda
escanchada e desvairada de exagero
eu ia cantando
caminhos de queima e descabaço
enquanto as rotas descamavam
em ritos
em rútila
em ri(S)os
Anselmo Gomesnasceu em 1981 em Capanema – PA. É formado em Letras pela Universidade Federal do Pará (UFPA), onde trabalha como Redator. Participou de diversos Prêmios e Concursos Literários. Venceu, em 2012, o Prêmio IAP de Literatura, na categoria infantojuvenil,com o livro “Salomão pela Janela”. Venceu o Prêmio PROEX/UFPA de Literatura, em 2013, com o conto “Os Desertos”. Em 2014, foi o 2º colocado no II Prêmio de Poesia Belém do Grão Pará, com a obra “Anticorpo”, a qual será publicada em 2017 pela Editora Penalux. Mantém o blog: www.tardescausticas.wordpress.com. Atualmente reside em Castanhal – PA.