Ela na cama acordada não sonha os carros pedem atenção não vão parar não vão parar não vão parar não.
Ela talvez chore talvez evite talvez levite num limbo de luas repetidas vazias & cheias ela em preto-e-branco dentro de um filme e não dorme não dorme não dorme não.
Memórias brancas memórias ardentes dias sob suspense. Suco de laranja com veneno de rato. Palavras espremidas como espinhas. Deixar-se levar por entidades suspeitas.
Na aba da claridade multidões sussurram vozes de motores. O som divide o acordar em fatias cada vez mais finas. O primeiro pensamento puxa o fio do vício de pensar.
Desobsessão por espada.
Desobsessão por martírio.
Intensa solidão florindo o lírio,
delírio do auto-conhecimento.
Cresce a rosa de angústia por dentro por dentro por dentro por dentro.
(2011/ Para Lula e Luciano Queiroga)
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escorregas pela telha branca és chuva
abro meus olhos e te recolho entre as pupilas
neblina de luz irmã
nação feita de sonho
te abraço e choro de tanta felicidade neste cálido reencontro
não tenho palavras mais nem as quero
apenas teu corpo contra o meu um talismã feito de nós dois
capaz de transformar as dores e o depois
lâminas de afeto quente rosas preciosas feitas de tempo vivido
canticos antigos que se entoam em silencio
e o amor que não penso
o amor que flui
o amor que rui paredes e muralhas
intima maravilha que nos espalha
migalhas de emoção na palma do dia.
penetras em cada fresta, és chuva
lua de fecundação, tu me renovas.
(2010/ 2011)
foto: Duane Michals
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