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Fotografia de Guy Blanc |
NÃO PRECISAMOS DE MAIS EDUCAÇÃO
em meio à multidão
ensopados da generalidade
tons de cinza fazem mágica com a nudez radiante
ensopados da generalidade
tons de cinza fazem mágica com a nudez radiante
– há malabares nos semáforos
mais adiante
todo o sempre
o nada dito
o bem bonito
são transeuntes pontuais
todo o dia – todo o dia
todo o sempre
o nada dito
o bem bonito
são transeuntes pontuais
todo o dia – todo o dia
rostos borrados cansados do ponto manual
mãos vazias soltas nos bolsos furados
atrasados
para o trem que nunca vem
mãos vazias soltas nos bolsos furados
atrasados
para o trem que nunca vem
cegos pernetas
ainda creem que tetas – logo as tetas
podem salvá-los da falta de moedas
ainda creem que tetas – logo as tetas
podem salvá-los da falta de moedas
nem tetas, nem trens, nem cores
ABUNDANTE
eu vinha caminhando tanto e há tanto tempo
meu corpo quase padeceu
fui mais forte
meu corpo quase padeceu
fui mais forte
minha vontade de viver era mais alta
absorvi toda a água da terra por onde caminhei
a secura da minha batalha ficou estampada no solo árido
semimorto, fissurado, arrasado por onde andei
o azul do hidrogênio gênio que dá em abundância no solo bom
veio para as minhas veias e carnes e ossos e pele
agora sou mais água do que sonhei
talvez agora peixes subam em minhas pernas
pássaros beberiquem em minha roupa
talvez germine alguma semente em mim
depois de tudo por que passei
CONSELHEIRA
eu estou nesse salão enorme
o chão é liso e claro
cheio de buracos profundos
eu me sento à beira de cada um deles e jogo meu anzol
às vezes fisgo coisas negras
outras esquecidas, outras tão sensíveis
eu não posso cair nesses abismos
mas não devo sair daqui
esses peixinhos sem água precisam fisgar a minha isca
ou morrerão afogados
DONO DA ADAGA
se do fundo da luta
eu retirei minha flâmula
às margens do córrego
repousei minha adaga
eu vejo vitória depois das sombras
elas dançam comigo
me deitam ao lado da água limpa
o refresco dos pingos é sutil
– as sombras gostam
e a adaga está ali
a nosso dispor
minha valsa, enfim
é a delas também
SOBRE ENVELHECER
o cansaço da pele
não deita de conchinha
em lençóis de seda
e sem calcinhas
com as almas duras
pele odeia sexo casual
gosta de coisas para sempre
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Sabrina Dalbelo é gaúcha, servidora do Ministério Público Federal e escritora. Já participou de projetos antológicos das editoras Livro da Tribo, Poesias Escolhidas, Bestiário, Literacidade, Patuá, Pastelaria Studios (Portugal), Gente de Palavra, Revista Subversa, Sociedade Partenon Literário, entre outros.Seu primeiro livro de poemas, "Baseado em Pessoas Reais", saiu pela Poesias Escolhidas Editora, em junho de 2017 e em breve publicará pela Editora Penalux.
créditos das fotografias nesta postagem...
Guy Blanc