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6 poemas de Adrian'dos Delima

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Suburbe                              

A tarde tinha um ar grisalho ao terminar
Onde as lâmpadas mais altas
Acendiam cabeças
De vaga-lumes pálidos

Eram os pescoços desta cidade baixa
Que se esticavam nos postes
Talvez para ver além dos telhados
Presos que estavam na borda da calçada

Se pudessem se lançavam
Por cima do chapéu do morro                     
Para o céu estrelado que à noite
O teto das metrópoles usa


Coisas, coisas
                    

coisas, COISAS que eu quero dizer e digo pra trás
Eu quero dizer coisas
que eu quero dizer e deixo pra trás, digo, fico
Eu quero dizer
São essas coisas que eu
não digo
quer dizer
ficam
 


Para iluminar com os poetas
Os vultos que a lua projeta
Os vãos escuros entre os edifícios
E a sombra da miséria sob os viadutos


Cem mil tomos

miam loucos
ãrra-
nham roucos
a porta
garganta do diabo
Gárgulas unham
com garras de pedra
minha garganta sem ar
preteianhg
a cara de gangrena
& ganho
coágulos
grunhindo
por cada palavra
pulando na goela
As pernas
me rangem
vou longe em
mil pretos sem tripas
Pretória

me contorcem
as minhas
Conto tapas
que troco
de língua                              


O voto de silêncio

Diz-se um discurso contemporâneo

O verdadeiro nadador
é aquele que cruza os braços
diante da água.
A estrela mais bela
ainda está por ser descoberta.
O grito
que vale a pena ser ouvido é o do mudo.

Incorre em erro
aquele que diz o que acha que sabe
porque a verdade está escondida
e em constante movimento.

Se você diz estas coisas você está por dentro 


Os peixes

Tocando com os dedos no vidro,
Os peixes dentro do aquário
Se movimentam, seguindo-os.

Ao contrário, com peixes dentro,
A um toque invisível na tela
Se movem os peixes do lado de fora.


No Y o hibisco

enquadrado ao lado
da minha janela de
moldura em madeira marrom

sustenta um ninho ou
o ninho requer a (antes)
barriga laranja – que no em cima pesa agora
da mãe sabiá para o sustentar?

Não sei. Só sei que
somente o ovinho dormindo
precisa de
fazer nada
além de nascer-se em hora de.

 
Galeria: deviantART



Adrian’dos Delima (Canoas, RS), pseudônimo para Adriano do Carmo Flores de Lima, é poeta, tradutor, teórico de poesia e compositor. Cursou Letras, habilitação Tradução na UFRGS, onde não se graduou em função de dificuldades econômicas. Na década de 1990 publicou poemas em antologias e  fanzines fotocopiados que editou com amigos, além de editar e publicar nojornal “Falares”, dos estudantes de letras da UFRGS. Seguindo seus estudos como autodidata, posteriormente publicou em revistas de papel e online, como a Germina, a Babel Poética e a Sibila. Publica, sem muita regularidade, traduções e poemas próprios na sua página Rim&via (partidodoritmo.blogspot.com.br). É autor dos livros Consubstantdjetivos ComUns (Vidráguas e Gente de Palavra, 2015) , Flâmula e outros poemas (Gente de Palavra, 2015) e O aqui fora olholhante (Vidráguas, 2017).
 

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