B.
B. tem um peito cheio
de flores
e uma coleção
de mapas antigos
na parede
da cozinha
um retrato
do deserto do
Atacama
junto da coleção
de fotografias
B. esconde estrelas
na palma da mão
e uma coleção
de poemas
tatuados na pele
B. ainda guarda
histórias de amor
na escrivaninha
do quarto
e um reino
de ilusões
em baixo
da cama.
Coração
encontrei
o coração de B.
exposto na rua
como quem acha
um poema perdido
tropecei nele
quase que
sem querer
como quem
é atropelado
de bicicleta
em pleno meio dia
[a gente fica confuso
não sabe direito
o que houve]
B. é tão descuidado
deixando o coração
exposto
assim
eu corro o sério
risco de entrar nele
e não querer sair.

Lusco-fusco
eu não aprendi
a nadar
e também nunca
soube nada
sobre o amor
talvez por isso
que eu tenha
me afogado
tanto
em amores rasos
antes de B.
aparecer
com seus
fins de tardes
suas mudanças
de tempo
agora tudo
faz sentido
até o poema
que fiz na quinta série
já falava dele
foi por isso
que o poema
veio
era um sinal
o aviso que
o amor
[mar]
estava para chegar
e que mesmo
correndo
todos os riscos
eu deveria me jogar.
Eu sei que sim, sei que sim
o problema sempre foi
a primeira vez
disso a gente não
soube fugir
a primeira vez que vi B.
a primeira palavra
que ele me disse
são imagens
que permeiam a minha cabeça
hoje fazem 95 dias
que me apaixonei
pelo seu inferno
e ele ainda diz
que isso é coisa
da minha liberdade poética
que raiva eu sinto de B.
queria manda-lo à forca
mas sou eu quem
morre toda vez
que finge que somos
apenas amigos
já tem uma semana
desde a última vez
que ele me matou
já tem uma semana
e eu ainda não aprendi a
ressucitar.
ressucitar.
Thiago Soeiro, 28 anos, nascido em Belém do Pará, morou até os 18 anos na cidade de Monte Dourado-PA, onde começou seu contato com a escrita por meio de textos e cartas, desenvolveu sua poesia falando do seu cotidiano com o poema e todas as coisas que cerca a fica e seus sentimentos. Criou em 2010 o sarau Poema de Quinta, junto com outros amigos, participou de uma coletânea em Macapá intitulada Poesia Na Boca da Noite, criou em 2011 junto com o poeta Pedro Stkls, o grupo Poetas Azuis, que trabalha a popularização da poesia por meio da música e da fala, participou da Feira do Livro do Amapá nos anos de 2013 e 2014, com apresentações de recitais, exposições de poemas e mesas de debates.Em 2015 fez parte da exposição Poesia Agora, no Museu da Língua Portuguesa, que juntou 500 poetas de língua portuguesa de todo o mundo.