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4 poemas antidadaístas + 3 de Tim Bührer

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Annie Leibovitz


antidadá n.6 #poesinha

uma sociedade só que dos poetas vivos
Formada pelos grandes clássicos mortos
de augusto a oswald leminski e agora gullar
Que não são lidos nos cursos de letras
porque paradoxalmente se mantém intactos
Enquanto Slams Resistências xavecam as salas
com a poesia surrada da realidade batida
Empanturrando os descendentes de Rimbaud
Sendo os filhos diretos dos Panteras Negras e
de quem usa poesia como arma e não como camisinha
pra própria masturbação mental
~ tudo isso num post imaginário da vossa excelência a jojoca
Puta da vida porque o Carpe Diem virou tatuagem
E o Estado é de Bucolismo geral
ao invés de um filme bonitinho do Robin Williams


antidadá n.4 #palanqueta

- oooooooabre alas que o lulalá vai passar -
e na paulistinha caminhou o sindicato
de vendas especializadas em churrasquinhos
onde “que país é esse” versão do capital
“que país é esse é a porra do brasil”
alternou vezes com geraldo vandré
“pra não dizer que não falei das flores iô iô iô”
queimando a babilônia na versão reggae
e todo mundo bateu cabeça de gelo comprando
itaipava 3/10 e corneta e acendeu fire
tiozões e tiazinhas camisa do pt “ele vai falar” eles diziam
agora ele vai falar olha lá uma estrela!
- ooooooo abre alas que o lulalá vai passar -
o juntos com o pcb logo atrás, as placas coletivas
bloco conlutas de um lado, bloco cut de outro
companheirada se arrebentando de comer milho verde
fazendo bem para os negócios locais de populares
skol beats cincão pra cima pra ficar no grau
McDonalds aberto, trio virado, faltou um telão
perguntei onde começava o VIP pro evento
fui informado que era num dos camarotes trio elétrico
e a horizontalidade vinha no bloco do Fora Temer
que ainda em carnaval cantava marchinhas
de Crítica Social Foda
- ooooooo abre alas que o lulalá vai passar
e o mar vermelho se abre quando Ele emerge
com a fantasia suprema de ex presidente
completando a festa o Rei Momo Exuberante
bonés do MST como abadás, inclusive no moderno
modelo new era aba reta para os Estilo$o$
sobe no palanque para o samba final da anunciação
e de repente comunistas e anarquistas relevantes
passam a cantar e dançar a música magnética
e alguém aparece com a porra do mapa astral do Lula
Escorpião em Escorpião - uma pessoa com alta capacidade
de liderança, vingativa e com exímia habilidade de convencer
como a prova final de que devem o prender amanhã
enquanto come solta a micareta vermelha de hoje
tirando selfies de protesto politizadas para o inxta
todo mundo com aquela fé no carnaval de 2018!!!!!
- ooooooo abre alasss


antidadaísmo portátil número #745

no meio do caminho tinha uma pedrada
acertou bem na imagem do santo
quebrou a porta do terreiro acertou em cheio
no olho do jornalista acertou a cara da moça
apedrejada sozinha na calçada pegou
um cabeludo um tal jesus no caminho
que levou também uma pregada antes
daquelas que vieram em vão pelos seguidores
que não sabem fazer da pedra palavra

no meio do caminho tinha uma pedrada
pegou a travesti na rua perdida trincou
os ossos da artista que cumpria seu papel
acertou em cheio o rosto preto e meu deus do céu
só não deixa pegar na janela
que se não cai o mundo


antidadaísmo portátil #0,5

mandaram dizer que aquele museu tá com pedofilia
o médico: Kim Kataguiri
diagnosticou pelo vídeo
- é preciso, segundo os parâmetros curriculares nacionais
fazer um exame mais certeiro da contextualização
::::::o museu está abusando partidariamente de crianças
esse é o fato.
pegou pedofilia depois da onda de exposições que contaminou de maneira gramsciana o brasil
depois que o kit gay passou a ser distribuído no mcdonalds
para toda criança que fosse capaz de ler a bíblia sagrada
fonte: arial 12
- informações do nosso correspondente lá
dito e feito
:::::a cura para o museu
- castração alquímica
nada de transformar chumbo em ouro. pedra filosofal é o caralho. chega.
corredor da morte.
o museu reage:
- ah como se precisasse kkkkkkkkk
*reação monossintética de surpresa da plateia -
a arte está morta
achas que tens o que é preciso para
fazer interpretação contemporânea temática?
a população liberal está horrorizada. o que será dos memes?
o que será da nossa liberdade??
o povo da rocinha não conseguiu responder essa… 


primeira lei de timwton
meu peito tá vazio aqui na vital.
dentro do santana eu sinto duas coisas
fome
e
sua falta
dentro do santana eu vou no embalo
Tipo inércia, sabe,
tem que ir de qualquer jeito mesmo. assento vazio do lado.
quer dizer, eu botei a mochila.
vai sentar ninguém comigo não. vai não.
não adianta olhar feio.
passando pelo largo da batata como quem passa vontade
todas as meninas ali são você
todos os pombos são eu
cagando & andando. voandinho. pru.
memória de pombo, e droga,
eu só não consigo te esquecer. o resto foi.
o busão tá cheio. vários querendo sentar.
Botei o fone. Foda-se.
só tô ouvindo aquela gravação da sua voz e fingindo que você tá aqui.
se eu tô com dor no coração todo mundo vai ficar.
tipo inércia.
A vibe é feminejo: decepção, álcool e trabalho de segunda à sexta
“um a zero pra minha intuição…”
A Teodoro Sampaio é a rua mais longa de São Paulo sem você.
até chegar perto das clínicas eu já senti tudo de novo
tipo inércia.
tipo empurrando com a barriga.
alguém:
“posso sentar aí?”
não. já tem gente.


o grande rolê
eu caí no mundo no início depressivo da década de 90, quando também caiu o muro e o grunge despontou;
os jovens perderam os objetivos, a grande crise, o desafeto, o colapso ideológico, kurt cobain;
manjedoura: uma cidade pequena no fim do mundo na beira do abismo e no berço tranquilo;
fui criado um bom rapaz - crente, temente, karatê, kumon (aulas de português), enfim - tudo que eu precisava;
quebrei o dedão do pé no início duma partida de futsal em 2012;
aprendi a tocar violão sozinho e até hoje eu não sei direito;
minha primeira música foi uma versão de “dear prudence” um pouco menos elaborada e definitivamente sem a grandeza da original;
meu rolê começou quando eu abri os olhos pela primeira vez e não fazia ideia do que era aquilo tudo no que eu estava me metendo pelo simples fato de nascer e existir;
e desde então eu venho tomando bomba e birita em doses variadas por tempo indeterminado e de formas diferentes;
com dezessete anos meu cabelo chegava nos ombros, mas eu usava boné ao contrário e brincos de coco;
prestei juras num altar antes de saber o que é altar e o que são juras e não, eu não casei;
era algo um pouco menos sério e mais definitivo;
eu tenho vinte e dois anos e até hoje amarro os sapatos pensando num coelho entrando na toca;
até hoje eu olho de baixo da cama, lavo as mãos para ler, durmo de meias e como kiwi com açúcar;
eu adoro o cheiro do orvalho e da poesia fresca recém-descoberta e amo os poemas de allen ginsberg mesmo que eu não entenda a essência da sua poética;
muitas vezes eu perco o sentido e a razão e só vou encontrar lá pelas altas horas da madrugada quando já estou muitas vezes sozinho fumando um careta despretensiosamente;
quando eu tinha doze anos me apaixonei sem querer e descobri o gosto amargo da não-correspondência;
desde então eu venho escrevendo poesia numa trajetória amplamente variada e já passei pelo soneto pelo haikai pela poesia concreta e pela marginal;
hoje sou um amante da anti-vírgula e da não-rima-intencional mas isso pode mudar assim que o sol nascer no dia seguinte;
eu sou a quase essência da mudança e adoro pizza de frango com catupiry principalmente fria e no amanhã;
encarnei o avatar do meu século e do meu sangue - me tornei praticamente tudo aquilo que detestava mas isso não significa que fiquei pior;
hoje eu sou o fantasma da criança dos anos noventa - desenhos animados, fast food, brinquedos esquisitos e música puramente comercial;
eu sou um transformer do zodíaco e vou te capturar com meu poemabola enquanto vagamos no megazord da depressão;
tudo isso enquanto ouvimos
radiohead; 


SÉCULO xxi
o parsa em sua própria limitação melodramática
caiu na vala do esquecimento febril,
dobrou-se em cuidados solitários
discutiu à luz da crítica da razão pura
e perdeu a lucidez
de fronte
à impressora:
conseguiu quebrar as bases do pensamento dialético
mas não pôde instalar
o software
da HP; 





Tim (nascido Joaquim) Bührer, SP-SP, 24 anos, é geógrafo, professor, poeta, fundador do antidadaísmo, baterista e compositor na banda Companhia a Sós. Também é desorganizador dos sarau(s) Sarradas Batidas, Sarau Comunitário (Itapeva-SP), membro da página Novos Batidos e autor do tumblr seasickpoetry.tumblr.com onde posta desde poemas, crônicas, análises e críticas sociais foda(s). Nascido no interior de São Paulo, conhece o mundo através do Google Maps e se aventura na ficção, no quadrinho e no mundo nem tão underground assim dos zines.



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