jogos
os dados,
ou quem sabe o céu,
cometas, os astros
e seus rastros
o infinito,
oculto, entregue ao léu
e os deuses jogam-se aos logos (λόγος)
incógnitos, players sem precedentes
noite
o quadro não pintado da lua
é só um devaneio
um desejo sem foco, perdido
no arcabouço dos desejos
porque está aqui a lua
e ilumina
durma, Carlos
deixe que a manhã avance
e o brilho se apague,
a noite cheia de desejos
é só uma armadilha
para roubar-lhe os olhos
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Ilustração: Saint-Malo |
dedesperdício
nenhum poema
preenche esse vazio
nenhum verso é capaz~
do alto da torre, na clausura, vê-se
não há poema que preencha esse cansaço
não há poema para contar estória
não sobrou poema nessa estante
do buraco da fechadura, o mundo lá fora
é só poeira de poesia
é a bala arremessada ao céu
ou um rojão que queima pela metade
gosto de ter gosto de poeta
e dizer por não dizer
ter diante do dito
o não-dito
e se valer todo dele
ser o escritor de versos
em formato doc e em formato sonho
em uma lógica pouco cartesiana
pouco ortodoxa
pouco vulgar
recolher a dedo os verbetes
e as colocações
dominar os signos,
pelos punhos, pela dobra do colarinho
ter o universo a meu favor
e o verso
todo contra
todo contrário
todo reles
todo vil
todo sob
todo sem
e todo
por inteiro
a meus pés
Marina Rimaé poeta e pesquisadora da poesia concreta e da (nova) arte de fazer livros. Em 2017, lançou seu primeiro livro de poemas Vênus partida ao meio, pela Editora Patuá.