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4 poemas de Marina Rima

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jogos

os dados,
ou quem sabe o céu,
cometas, os astros
e seus rastros
o infinito,

oculto,                                                                         entregue ao léu


e os deuses jogam-se aos logos (λόγος)
incógnitos, players sem precedentes


noite

o quadro não pintado da lua
é só um devaneio
um desejo sem foco, perdido
no arcabouço dos desejos
porque está aqui a lua
e ilumina
durma, Carlos
deixe que a manhã avance
e o brilho se apague,
a noite cheia de desejos
é só uma armadilha
para roubar-lhe os olhos

Ilustração: Saint-Malo


dedesperdício

nenhum poema
preenche esse vazio
nenhum verso é capaz~

do alto da torre, na clausura, vê-se
não há poema que preencha esse cansaço

não há poema para contar estória
não sobrou poema nessa estante
do buraco da fechadura, o mundo lá fora
é só poeira de poesia

é a bala arremessada ao céu
ou um rojão que queima pela metade


doxa

gosto de ter gosto de poeta
e dizer por não dizer

ter diante do dito
o não-dito
e se valer todo dele

ser o escritor de versos
em formato doc e em formato sonho

em uma lógica pouco cartesiana
pouco ortodoxa
pouco vulgar

recolher a dedo os verbetes
e as colocações

dominar os signos,
pelos punhos, pela dobra do colarinho

ter o universo a meu favor
e o verso

todo contra
todo contrário

todo reles
todo vil

todo sob
todo sem

e todo
por inteiro
a meus pés



Marina Rimaé poeta e pesquisadora da poesia concreta e da (nova) arte de fazer livros. Em 2017, lançou seu primeiro livro de poemas Vênus partida ao meio, pela Editora Patuá.

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