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Dia de Finados, poema de Diego Callazans

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Philippe de Champaigne. Natureza Morta com Caveira. [cerca de] 1671.





[Dia de Finados]


Há 35 anos eu nasci.
30 dos quais, eu moro em Aracaju.
após 23 meses de chegarmos,
desviveu minha mãe. E meu avô
seguiu-a – tanta dor! Nós conversamos,
no Dia de Finados, sobre eles,
no cemitério, por quase três horas.
Não houve pranto (benditos remédios!).


Disseste algum Pai-Nosso em tua cabeça,
eu pus pra baixo a face das minhas mãos
e pedi proteção dos ancestrais.
Sob o olhar discreto de dois deuses,
deixamos debruçados, sobre a lápide
com nome da família, uns crisântemos
cuja cor – amarela – escolhi
porque achei que era a pertinente.


Océu é nosso pai. Aterra, mãe.
A
vida nos irmana”. Caminhamos,
olhando os patos presos à lagoa,
trazendo ali de volta à colina
o ar da antiga chácara que fora.
Amorte deve vircom alegria”,
disseste-me, “melhor é celebrá-la
talsempre bem fizeram os povos sábios”.


Na despedida, deste-me uma bênção
tradicional, à qual responderia
Que Hermes te conduza a belos prados”,
pudesses tu me perdoar. Calei.
Aindamais queos mortos, honra os vivos”,
ouvi de alguém que zanza entre os mundos.
           Usei já 35 de meus anos.
           Qualquer idade a mais é um presente.

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