uma alga viva:
alguém mete as mãos
e ela foge
e ela foge
ou ela gruda
e sentem
nojo
e sentem
nojo
como alga viva, mãe?
primeiro desista da palavra
força
primeiro desista da palavra
força
logo depois da resistência.
um corpo resistente
é destruído fácil
por quebradiço.
é destruído fácil
por quebradiço.
logo depois exercita o drible:
algo esbarra, se desvia
algo esbarra, se desvia
ou abre buraco
para que passe
para que passe
seja peixe porém
não morda
isca.
não morda
isca.
§
ao advento da desconstrução
a comunicação é desértica dum chão sem cactos
chega dos factos pactos memórias práticas da irredutível opinião sádica
a política da chaga exige vasilhames abrigando migalhas
não há migalhas em chão sem cactos
a política da chaga nos exige uma palavra de basta e que
tomemos sopa de planta em nossas vasilhas vazias
uma matilha de planta em nossas vasilhas vazias
§
A ponta dos fuzis cariocas
desaponta o trajeto desabitado
por combustível de
ponta
A conta dos funis cariocas
desponta a falta desabitada
por excesso
desconto
meio-fio blindado
travesseiro
macio
§
digo ao meu amor que isso é coisa de outro mundo
não sou um urso que hiberna mas a vontade é dessas
que sim. já estourei tantas bombas de chocolate que precisei
testar outras espécies
quando eu testo outras espécies arrisco tudo:
dente, altura, caverna do muco
(a minha elástica
assume o risco)
§
A real profanação do sexo
é seu próprio pensamento
em ação.
não é a carne comida
nem o suor detrás nas varandas
arrebentadas
as janelas dos céus
continuam abertas
e até os anjos são pouca
e roupa de cama
uma ação profana age em desobediência à essência
reprodutiva
a isto dá-se o ato de mudança
de método
e não contraceptiva como
remédio
ao hábito falho.
um hábito falho é ainda um hábito
sacro
Quando pensa,
sua perna pensa.
Está dada a real definição
de sexo feminino.
§
pesca.nº5 É irritante esse processo de levantar bandeiras, abraçar causas, "fazer acontecer" através de palavras, quando a ferramenta do artista é a obra. há um copo vazio num museu e ninguém dá bola pra ele Veja o lado bom: as roupas secam bem mais rápido pesca.nº8 estou rindo da cara dos hipócritas Os movimentos sociais vão admitir a arte como um instrumento de transformação da consciência? Minha contribuição ao debate sobre o financiamento da arte: Ela para e fica me olhando |
§
acordei o lápis por haver imaginado
em estrofes
se um dia o mar se pinte
de petróleo e nas baleias
os peixes se guardem
e as baleias apenas
miragens
quando completo o ciclo
do sol e o sono aguardando indício,
lembrei de uma pouca cavidade
sonhada o seguinte aspecto de um
homem livre -
sua pouca inclinação
cívica
e seu corpo multi-braços sugeria
que o caso
era aquático pela tinta
do polvo
e pintor havia pela causa óleo
da pedra dever ser dentro
e não morrendo em cima
da terra - e com seus braços multi-práticos,
fazia água preta da tinta do polvo
pelo desejo do polvo!Júlia Vita (1995) é poeta e artista nascida em Niterói, a cidade onde atualmente reside. Em suas práticas atuais estão "Trabalho doméstico" - processo performativo constante- e o "pesca.nºEu", projeto poético de palavras políticas em montagem, discurso de mídia e identidades. Possui poesias publicadas na revista mexicana La Crítica e manuscritos no Poema do Poeta. Um grande escopo pode ser lido em seu blog Versoando e em seu próprio Facebook, onde dispara escrituras e outros gestos artísticos que encontram potência de contexto.