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7 poemas de Júlia Vita

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uma alga viva:
alguém mete as mãos
e ela foge


ou ela gruda
e sentem
nojo


como alga viva, mãe?
primeiro desista da palavra
força


logo depois da resistência.

um corpo resistente
é destruído fácil
por quebradiço.


logo depois exercita o drible:
algo esbarra, se desvia


ou abre buraco
para que passe


seja peixe porém
não morda
isca.


§


ao advento da desconstrução
a comunicação é desértica dum chão sem cactos
chega dos factos pactos memórias práticas da irredutível opinião sádica
a política da chaga exige vasilhames abrigando migalhas
não há migalhas em chão sem cactos
a política da chaga nos exige uma palavra de basta e que
tomemos sopa de planta em nossas vasilhas vazias
uma matilha de planta em nossas vasilhas vazias

§


A ponta dos fuzis cariocas
desaponta o trajeto desabitado
por combustível de
ponta

A conta dos funis cariocas
desponta a falta desabitada
por excesso
desconto

meio-fio blindado
travesseiro
macio

§


digo ao meu amor que isso é coisa de outro mundo
não sou um urso que hiberna mas a vontade é dessas
que sim. já estourei tantas bombas de chocolate que precisei
testar outras espécies

quando eu testo outras espécies arrisco tudo:
dente, altura, caverna do muco

(a minha elástica
assume o risco)

§

A real profanação do sexo
é seu próprio pensamento
em ação.

não é a carne comida
nem o suor detrás nas varandas
arrebentadas

as janelas dos céus
continuam abertas
e até os anjos são pouca
e roupa de cama

uma ação profana age em desobediência à essência
reprodutiva
a isto dá-se o ato de mudança
de método
e não contraceptiva como
remédio
ao hábito falho.

um hábito falho é ainda um hábito
sacro

Quando pensa,
sua perna pensa.
Está dada a real definição
de sexo feminino.

 §

pesca.nº5

É irritante esse processo
de levantar bandeiras, abraçar causas,
"fazer acontecer" através de palavras,
quando a ferramenta do artista
é a obra.

há um copo vazio num museu
e ninguém dá bola pra ele

Veja o lado bom: as roupas secam
bem mais rápido


pesca.nº8

estou rindo da cara dos hipócritas
Os movimentos sociais vão admitir a arte
como um instrumento de transformação da consciência?

Minha contribuição ao debate
sobre o financiamento da arte:
Ela para e fica me olhando



§

acordei o lápis por haver imaginado
em estrofes
se um dia o mar se pinte
de petróleo e nas baleias
os peixes se guardem
e as baleias apenas
miragens

quando completo o ciclo
do sol e o sono aguardando indício,

lembrei de uma pouca cavidade
sonhada o seguinte aspecto de um
homem livre -
sua pouca inclinação
cívica

e seu corpo multi-braços sugeria
que o caso
era aquático pela tinta
do polvo

e pintor havia pela causa óleo
da pedra dever ser dentro
e não morrendo em cima
da terra - e com seus braços multi-práticos,

fazia água preta da tinta do polvo
pelo desejo do polvo!



Júlia Vita (1995) é poeta e artista nascida em Niterói, a cidade onde atualmente reside. Em suas práticas atuais estão "Trabalho doméstico" - processo performativo constante- e o "pesca.nºEu", projeto poético de palavras políticas em montagem, discurso de mídia e identidades. Possui poesias publicadas na revista mexicana La Crítica e manuscritos no Poema do Poeta. Um grande escopo pode ser lido em seu blog Versoando e em seu próprio Facebook, onde dispara escrituras e outros gestos artísticos que encontram potência de contexto.

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