Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Dez poemas de Alejandra Pizarnik, por Mariana Basílio

$
0
0

AS JAULAS

Lá fora há sol.
Não é mais que um sol
mas os homens o olham
e depois cantam.

Eu não sei do sol.
Eu sei a melodia do anjo
e o sermão quente
do último vento.
Sei gritar até o amanhecer
quando a morte pousa nua
em minha sombra.

Eu choro debaixo do meu nome.
Eu agito lenços pela noite
e barcos sedentos de realidade
dançam comigo.
Eu oculto pregos
para escarnecer meus sonhos enfermos.

Lá fora há sol.
Eu me visto de cinzas.

LAS JAULAS

Afuera hay sol.
No es más que un sol
pero los hombres lo miran
y después cantan.

Yo no sé del sol.
Yo sé la melodía del ángel
y el sermón caliente
del último viento.
Sé gritar hasta el alba
cuando la muerte se posa desnuda
en mi sombra.

Yo lloro debajo de mi nombre.
Yo agito pañuelos en la noche
y barcos sedientos de realidad
bailan conmigo.
Yo oculto clavos
para escarnecer a mis sueños enfermos.

Afuera hay sol.
Yo me visto de cenizas.

FILHAS DO VENTO

Vieram.
Invadem o sangue.
Cheiram a plumas,
a carência,
a pranto.
Mas você alimenta o medo
e a solidão
como a dois animais pequenos
perdidos no deserto.

Vieram
incendiar a idade do sonho.
Um adeus é sua vida.
Mas você se abraça
como a serpente louca do movimento
que só se encontra a si mesma
porque não há ninguém.

Você chora debaixo do seu pranto,
você abre o cofre dos seus desejos,
e é mais rica do que a noite.

Mas há tanta solidão
que as palavras se suicidam.

HIJAS DEL VIENTO

Han venido.
Invaden la sangre.
Huelen a plumas,
a carencia,
a llanto.
Pero tú alimentas al miedo
y a la soledad
como a dos animales pequeños
perdidos en el desierto.

Han venido
a incendiar la edad del sueño.
Un adiós es tu vida.
Pero tú te abrazas
como la serpiente loca de movimiento
que sólo se halla a sí misma
porque no hay nadie.

Tú lloras debajo de tu llanto,
tú abres el cofre de tus deseos
y eres más rica que la noche.

Pero hace tanta soledad
que las palabras se suicidan.

SOMENTE

já compreendo a verdade

explode em meus desejos

e em minhas desgraças
em meus desencontros
em meus desequilíbrios
em meus delírios

já compreendo a verdade

agora
a buscar a vida

SOLAMENTE

ya comprendo la verdad

estalla en mis deseos

y en mis desdichas
en mis desencuentros
en mis desequilibrios
en mis delirios

ya comprendo la verdad

ahora
a buscar la vida


SUA VOZ

Emboscado em minha escrita
canta em meu poema.
Refém de sua doce voz
petrificada em minha memória.
Pássaro preso em sua fuga.
Ar tatuado por um ausente.
Relógio que pulsa comigo
para que nunca desperte.

TU VOZ

Emboscado en mi escritura
cantas en mi poema.
Rehén de tu dulce voz
petrificada en mi memoria.
Pájaro asido a su fuga.
Aire tatuado por un ausente.
Reloj que late conmigo
para que nunca despierte.

O MEDO

No eco das minhas mortes
ainda há medo.
Você sabe do medo?
Sei do medo quando digo meu nome.
É o medo,
o medo com chapéu preto
escondendo ratos em meu sangue,
ou o medo com lábios mortos
bebendo meus desejos.
Sim. No eco das minhas mortes
ainda há medo.

EL MIEDO

En el eco de mis muertes
aún hay miedo.
¿Sabes tu del miedo?
Sé del miedo cuando digo mi nombre.
Es el miedo,
el miedo con sombrero negro
escondiendo ratas en mi sangre,
o el miedo con labios muertos
bebiendo mis deseos.
Sí. En el eco de mis muertes
aún hay miedo.

FESTA NO VAZIO

Como o vento sem asas preso em meus olhos
é a chamada da morte.
Só um anjo me enlaçará ao sol.
Onde o anjo,
onde sua palavra.

Oh perfurar com vinho a suave necessidade de ser.

FIESTA EM EL VACÍO

Como el viento sin alas encerrado en mis ojos
es la llamada de la muerte.
Sólo un ángel me enlazará al sol.
Dónde el ángel,
dónde su palabra.

Oh perforar con vino la suave necesidad de ser.


NAUFRÁGIO INCONCLUSO

Esse temporal a destempo, essas grades nas meninas dos meus
olhos, essa pequena história de amor que se fecha como um
leque que aberto mostrava a bela alucinada: a mais
nua do bosque no silêncio musical dos abraços.

NAUFRAGIO INCONCLUSO

Este temporal a destiempo, estas rejas en las niñas de mis
ojos, esta pequeña historia de amor que se cierra como un
abanico que abierto mostraba a la bella alucinada: la más
desnuda del bosque en el silencio musical de los abrazos.

A DANÇA IMÓVEL

Mensageiros na noite anunciaram o que não ouvimos.
Buscaram debaixo do uivo da luz.
Quiseram deter o avanço das mãos enluvadas
que estrangulavam a inocência.

E se esconderam-se na casa do meu sangue,
como não me arrasto até o amado
que morre atrás de minha ternura?
Por que não fujo
e me persigo com facas
e deliro?

De morte foi tecido cada instante.
Eu devoro a fúria como um anjo idiota
invadido por malezas
que o impedem de recordar a cor do céu.

Mas eles e eu sabemos
que o céu tem a cor da infância morta.


LA DANZA INMÓVIL

Mensajeros en la noche anunciaron lo que no oímos.
Se buscó debajo del aullido de la luz.
Se quiso detener el avance de las manos enguantadas
que estrangulaban a la inocencia.

Y si se escondieron en la casa de mi sangre,
¿cómo no me arrastro hasta el amado
que muere detrás de mi ternura?
¿Por qué no huyo
y me persigo con cuchillos
y me deliro?

De muerte se ha tejido cada instante.
Yo devoro la furia como un ángel idiota
invadido de malezas
que le impiden recordar el color del cielo.

Pero ellos y yo sabemos
que el cielo tiene el color de la infancia muerta.


A CARÊNCIA

Eu não sei de pássaros,
Não conheço a história do fogo.
Mas creio que minha solidão deveria ter asas.

LA CARENCIA

Yo no sé de pájaros,
no conozco la historia del fuego.
Pero creo que mi soledad debería tener alas.

A ÚLTIMA INOCÊNCIA

Partir
em corpo e alma
partir.

Partir
desfazer-se dos olhares
pedras opressoras
que dormem na garganta.

Hei de partir
não mais inércia sob o sol
não mais sangue devastado
não mais fila para morrer.

Hei de partir

Então avante viajante!

LA ÚLTIMA INOCENCIA

Partir
en cuerpo y alma
partir.

Partir
deshacerse de las miradas
piedras opresoras
que duermen en la garganta.

He de partir
no más inercia bajo el sol
no más sangre anonadada
no más fila para morir.

He de partir

Pero arremete ¡viajera!





Alejandra Pizarnik (Buenos Aires, 1936) foi uma escritora e poeta argentina. Seu nome verdadeiro era Flora, o pseudônimo Alejandra foi criado em sua adolescência. Faleceu aos 36 anos, em 1972, ao ingerir uma dose excessiva de soníferos. Alguns de seus ensaios poéticos foram dedicados a Erszebét Bathory ou Elizabeth Bathory como em La Condesa Sangrienta (1967), à obra de Julio Cortázar, Silvina Ocampo, André Breton e Antonin Artaud. Seu primeiro livro foi La última Inocencia (1956) e o último El Infierno Musical (1971). É considerada uma das maiores poetas argentinas do Século XX.

Mariana Basílio (Bauru, 1989) é uma poeta e tradutora paulista. Autora de Nepente (Giostri, 2015) e Sombras & Luzes(Penalux, 2016). Atualmente trabalha em seus dois próximos livros, Tríptico Vital (premiado no ProAC 32/2017), e Megalômana. Paralelamente, traduz uma antologia de poetas americanas do Século XX. É colaboradora dos portais Zonadapalavrae Liberoamérica. Tem poemas, entrevistas e traduções em diversas revistas do Brasil e de Portugal, entre elas: Alagunas, Diversos Afins, Escamandro, Garupa, Germina, InComunidade, Mallarmargens, Oceânica, Odara, O Garibaldi, Rai

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548