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6 poemas inéditos de Lucas Alvim

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31-08

Olhos erguidos e arrancados
por prédios de orelhas.
A noite foi apagada
como um pássaro morto
sopro de esquinas vazias
por córregas ruas acesas
o velar de laranjas velas.

Sorvo das escumas
sobre o pasto de concretos
e asfalto, Alfenas
morrera e morena.

Não sei em que calçada
deixarei minhas coxas.
Acende os metais
do afar das horas
elas nunca serão as mesmas
guilhotinada por pálpebras
e perdidas em correnteza
de suas veias.


05-09

As paredes ensolaradas não entendem por que de minha certidão. Fora de minhas razões formigas, um vácuo respirar espera o retirar sapato de aperto dos dias em caixas métricas. Em um dobrar de pernas, empanzino uma velhice pusilâmine de meias.
Fora de minha sala manam ouvidos de nuvens minerais, pústulas abrem poços na enfermidade de terra, uma espada verde é erguida. Céus tempestuosos acusam imaterialidade. E escuto seu badalo.

As serras serão coroadas e me desfolharei neste preamar de ventos. Sem renascimento, azedam meus vinhos grãos. Apodreço nozes de meus tornozelos.

E caminha paulatinamente a revelação de relevos defumando-se minha pele. Na desistência das flores no cansaço, um homem sinceramente sombrio sorve as luzes dos cômodos e me olha pote de vidro. Pronto para ferir com lanças d'águas.

Rastros detalhes de lençóis de alabastro me sentam. Empertigam nuvens para me espiarem deitado. Chovem silenciosos cavalos de pianos. Coma-se o espanto dos raios.

Não há nascimento, estou natimorto espantando o adejar de sombras da solidão, algas envolvem cabelos e mortos. Em constante levidade meu queixo se alumínea e sirvo uma cabeça em bandeja.

No corredor de ausências, a casa não me faz o mesmo que tanto vivi nela, uma ferrugem me beija e escorro por sua face moeda. Uma casa sentinela dentre casas apagadas cultiva insônias meticulosas, que sentam garrafa de vodca.

Estou mitigado em remanso, mar de estômago, cintura de horizonte, a sair pelo assombrar dos ciprestes, atordoado ou defunto. Revestido para existir. Despido para não existir. Viúvo de noites não testemunhadas.


08-09

Apedrejam adejam
estúpidas moscas
este beijo dilúvio
na palma da noite.

Ampara a uva
lâmpada bexiga
álcool de fogo água,
único fósforo,
enquanto se esvai
de suas roupas
azeite derramado.
Automóveis noturnos.

Postes cravam
corações inconstantes
lúmen sem mãos
cestos de relógios
gestos danificados.

Enterram-se beijos
jáspeos pés ausentes
e se desprende
pontes entre árvores.
Solitários cumprimentos.

Alvacentas razões
de luzes rarefeitas
diluem estrelas
no brilho negro
de amargo sabor.

Atém aos olhares
de estômago seco
as ruas lambem
vozes submergidas,
coxas sem mulheres.

E o passo bêbado
costuras as ruas
sobre meu peito.


14-09

Sibilar de chamas
Raia águas frias.

Almas medulas veias
Espantadas por marulho
Deixarão o curso
Mas não o zelo
De seus cabelos.

Haverá entulhos
De destinos.
Significativos passos
De cascos afundados.

Serão meu ouvido
Derramado e enamorado.


29-09

Cansaço besoura olhos, caem, após esbarrar em véu céu.

Madrugada evapora e deixa nave baleia.
Parte fogueira deserta. Praças de carcaças despovoadas.

Um filme de fumaça dança solitário.

Dorsos pastos velam a cidade de mastros postes árvores.

Constante morte de fotografias. Ruas rápidas e sombrias.

Murmuram nostalgias impossíveis. Conspiram o sabor das águas.

Neste rio paralelipípeda poeira, vigia céus, ombros ouvidos.

Feridos por sede, à sorte e azar de chuvas tempestivas.

Há um pertuito de espaço claridade, brilha anel solidão. Joia perdida.

Afagam ipês, piedosos ipês. Atônita velhice, conhecida e manemolente.

Pássaros agudos estão em inermes assembléias cirandas. Não se resolvem.

Não acerta tempo nesta relógia corrida, descansam desesperos e derrotas.

Entretêm-se mortos, roupas jogadas e a razão de uma toalha molhada.

Não há porvir, não há cinta nas gerações de fantasmas.

Derrama gozo luminoso e virtual. Aparências editadas.

A razão é uma delimitação de margens. Água de espelhos disformes.

Constrói-se na fragilidade dos seixos a dureza das agulhas.

Uma simples manhã destrói novamente tudo com sua pecaminosa suavidade.


01-10

Cortinas chuvosas cortam meu pescoço.
Minha mente se vai com as calhas d'águas.
Adentram o solo, seus segredos mortos.

Trovões resvalam cabelos. Veias ralas.
Folhas estômagam terra molhada
Digere o despertar das sementes.

Testa metálica costura seu frio.
Medo vapor d'água. Medo dos músculos.
De pulmões asas em vôo submerso.

Na solidão de uma tempestade
Caminhando sem passos, vou-me sujando

de seus próprios estalos de chuva.


Galeria:  Mike Davis



Lucas Alvim, nascido em oito de abril de 1990 em Areado-MG, é um típico e pacato mineiro fã de Rock Progressivo que escreve poemas. Publicou Maço de Março em 2013, finalista no Prêmio Gloria de Sant’ana 2014, e em 2014 publicou Exergia, segundo lugar no Prêmio LiteraCidade jovem 2014 categoria poesia, ambos pela Editora LiteraCidade. Também possui participação em Antologias. E foi menção honrosa com o Livro das Evaporações no Prêmio LiteraCidade 2015, categoria poesia. Em 2016 lançou Contorcionismos pela Penalux, e depois fez mais nada. 



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