O rádio do carro toca
a música preferida.
Troco a marcha, olho a rua,
sigo a vida aborrecida.
***
Fico esperando sentado.
A bela não quer chegar.
Quanto tempo inda será
que ela vai demorar?
***
Já que mais nada há para fazer,
me perco nas ruas insufladas,
como se nem houvesse a perceber
a esquina e sua encruzilhada.
Os pássaros pousados
nos fios dos postes tantos.
O crepúsculo fenece e
cobre o mundo em seus mantos.
***
A beleza que emana
de teu porte feminino
promete ao homem tolo
poder mudar o destino.
***
O desinteresse dos políticos
pelo povo que os elegeu
falsifica a democracia
e agora deu no que deu.
***
Os mais complexos altares
construídos ao deus mercado.
Mas eu, como ateu, confesso:
sigo para outro lado.
***
O trem passa valente
apitando no cruzamento.
Os carros param e aguardam
apenas por um momento.
Galeria: Gilad Benari
Reinoldo Atem, declaradamente curitibano, nasceu em 1950, no Piauí, morou em Londrina e em São Paulo. A sua poesia guarda as imagens de uma Curitiba sem os delírios de modernidade. Como consequência, seus melhores poemas não pagam o tributo para o verso curto ou para a modernidade epidérmica. Muito pelo contrário, os seus bons poemas são longos, bem articulados e revelam o domínio da macroestrutura da linguagem.
Participou e publicou:
- 4 Poetas - coletânea - Editora Cooperativa de Escritores - Curitiba, 1976.
- Tempos - coletânea de poemas - Editora Pindaíba, São Paulo, 1976.
- O Conto da Propaganda - coletânea de contos - Editora Vertente, São Paulo, 1979.
- Assim Escrevem os Paranaenses - coletânea de contos - Editora Alfa-Ômega, São Paulo, 1977.
- Sala 17 - coletânea de poemas - Movimento Sala 17, Curitiba, 1978.
- 1971 - novela - Editora Beija-Flor, Curitiba, 1978. (reeditada pela editora Inverso em 2015).
Foi um dos fundadores e editores da revista de jornalismo cultural e literatura Outras Palavras (1978) e da revista de criação Zé Blue (1980).