Eu sei que meus dias estão contados
Eu sei que meus dias estão contados
Existe quem queira me matar
Eu fui um doce e uma mentira
Eu não me preocupei com o sentimento
De ninguém
Nem tão pouco com os meus
Eu sou a forma mais sutil de perdição
Posta de ilusão abastecida pela banha realidade.
Fujo de mim, como foge um covarde
Das medíocres consequências.
Eu ainda pretendo envenenar
Toda a cidade. Eu preciso disso!
Eu sei que sou melhor,
Melhor que muitos santos,
Que muitas luzes, que muitos psicotrópicos...
Eu fui a loucura mais prudente.
Sonhos! Sonhos! Sonhos!...
Breve extinto.
Nadaverismo
O centro do universo era a minha casa
E o átomo menor
Era o botão de osso da minha
Camisa azul.
Havia, menor ainda,
Dois furinhos do meu botão,
Eu entrava por um
E saía por outro.
Certa vez, ao entrar numa dessas cavidades,
Eu encontrei o meu umbigo.
Só não descobri
O quanto eu deixei de viver.
Preciso da sua companhia
Preciso da sua companhia
E às vezes passo a mão no pelo
De um gato
Como se aliviasse essa dor.
Ficar com você:
Como?
Quando?
Às vezes eu me finjo de você
E beijo minhas mãos
Às vezes mordo os lábios
Num desejo que você
Sem querer, pense em mim.
Ivo tinha uma campina de cravos
Ivo tinha uma campina de cravos
Na cara.
Tinha época que aquilo se dilatava
E arroxeava
E eram mais crisântemos.
Ivo nunca ganhou uma rosa
E muita coisa que sentia
Nunca floresceu para o mundo.
Tudo ficou na flor da pele.
Aí vem essa moleza pelo corpo
Aí vem essa moleza pelo corpo.
Uma vontade de me estender no chão
E deixar que o capim cresça em volta,
Deixar que os insetos, fungos,
Se abriguem em mim.
Estranha alegria o desejo de virar paisagem.
O meu amor gosta de flores
O meu amor gosta de flores,
Segura uma flor do campo na mão
Como se fosse uma princesa
E gosta do mar.
O meu amor gosta tanto do mar
E, às vezes, com a flor ainda nas mãos,
Seus olhos mergulham no horizonte
- é quando estremeço –
Temo que não volte,
Fique presa entre os corais.
Minha porta de tanto ficar aberta
Minha porta de tanto
Ficar aberta
Não mais dá para ser fechada
E por ela entram todos
Os seres da tarde
E os espectros da madrugada
Só não entra aquela a quem um dia
Dei as chaves.
Organização: Tereza Du'zai