eu bagulho
os pensamentos
cabeça numa gastura
enquanto espio
na esteira da tarde
o varal no corredor.
toalhas cansadas
minha mãe nos pratos
na parede o caminho da chuva
telhas de amianto
frágil assassino.
meus olhos enfim
detidos no improviso
prateleira poucos centímetros
contra o muro
o encontro improvável
uma pedra pomes
(carcomida)
uma pedra de dominó
(Às e branco)
e uma estrela de plástico.
Vou ao pássaro.
Peço perdão com os dentes em
suas asas, esfacelando o ninho.
No alvoroço da luta
galhos nos meus olhos fazem o
cego. Em pleno voo ou queda
tudo no escuro. Vento carrega
o que eu desejava.
O horizonte respira e ludibria.
Sobra uma paz que eu devolvo
antes de morrer no asfalto.
Voa o pássaro.
CINEMA
Dezessete árvores,
talvez eucaliptos,
foram plantadas no asfalto.
Vento e sol as visitavam
enquanto um homem morria.
O filme era de amor,
mas eu não soube entender
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Ronaldo Trindade, baiano de longe, muito longe, perto do oeste, onde a serra esconde o monstro. Trabalha nos papéis da União. Rasga os poemas que não são feitos com bom vinho.