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Rispidez e delicadeza em um mundo surreal - poemas de Demetrios Galvão.

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cabeça de cacto - Rogério Narciso 





volumes agudos # 1


conciso
o ser
leva para seu interior
o indispensável.

enxuga suas expressões
exibe
linhas delgadas
pontiagudas.

veste uma indumentária
rígida
ríspida
– seu disfarce

com paciência
verticaliza
sua angulosa silhueta
porosa

adapta-se com leveza
resiste
defende-se
– raramente se enfeita

imóvel
encena sua beleza
em volumes
agudos.





volumes agudos # 2


trago
nas mãos
uma coleção
de acidentes

– o silêncio
aduba as formas –

brota
em mim
um novelo
de espinhos

– plantio
nem sempre
afável –





voz vegetal


desvendar
a memória
das plantas

– suas raízes
mais profundas

no passeio cego
das mãos –

a voz vegetal
que pronuncia
os segredos da terra





agricultura celeste


o agricultor, com sua língua,
acaricia as flores
fecunda os frutos
(auroras, navegações, filamentos)

as grandes plantações tropicais e suas colheitas:
o levantar das sementes
a edificação das sombras
o design do destino

com os olhos cingidos
as capitanias crescem,
enraizando no adubo das mortes

os excessos da estação.



Demetrios Galvão - foto de  Diego Noleto



_______________
Demetrios Galvão, Teresina/PI. É poeta, professor e historiador, com mestrado em História do Brasil. Autor dos livros de poemas Fractais Semióticos (2005), Insólito(2011), Bifurcações (2014), o Avesso da Lâmpada (2017) e do objeto poético Capsular (2015). Participou do coletivo poético Academia Onírica e foi um dos editores do blog Poesia Tarja Preta (2010-2012) e da AO-Revista (2011-2012). Edita a revista Acrobata, o blog Janelas em Rotação, colabora no site LiteraturaBr e atua com o coletivo Roda de Poesia – tensão, tesão e criação.

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