BILHETES PARA AUTO-EXÍLIO
I
marechal – centro. vias de pelica
onde nossos pés acreditavam o poema.
nos mentia o lugar
que se falsava acontecimento
II
(era placenta seca o que pisávamos)
III
ruas fendidas, sondadas no enigma
que se nos desfaziam
– habitávamos em silêncio
no que hoje nos tecemos juntos
IV
renda expurgada de seu líquido,
sêmen oco que nos desalojava
gota-a-gota
V
(em você foi primeira a coragem de existir
para fora desse centro estéril, onde
– EM VERDADE –
o poema era acontecimento em nós)
VI
somos abortos, bia, desse ventre árido:
praças de areia, luminárias diáfanas,
escombros de casa – que desabitamos. existimos
VII
num lugar espaço
aberto entre
o abraço e o infinito
***************************
OUÇO as luzes
estremecidas de janeiro
ouço um coração
bater dentro da terra
uma voz amordaçada
encerra boca nos desesperos
cantando as dores
caladas na coluna
estremecidas de janeiro
ouço um coração
bater dentro da terra
uma voz amordaçada
encerra boca nos desesperos
cantando as dores
caladas na coluna
vértebra à vértebra
abre-se luzes no nascimento
a terra sulca os ossos
edificando o corpo
a semente pulsa e move
o morno no vermelho
em janeiro, o homem
inaugura o verbo
com sete selos na boca
- em janeiro.