Quantcast
Channel: mallarmargens
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Dois poemas de Diogo Cardoso

$
0
0
BILHETES PARA AUTO-EXÍLIO

I

marechal – centro. vias de pelica
onde nossos pés acreditavam o poema.
nos mentia o lugar
que se falsava acontecimento

II

(era placenta seca o que pisávamos)

III

ruas fendidas, sondadas no enigma
que se nos desfaziam
– habitávamos em silêncio
no que hoje nos tecemos juntos

IV

renda expurgada de seu líquido,
sêmen oco que nos desalojava
gota-a-gota


V

(em você foi primeira a coragem de existir
para fora desse centro estéril, onde
– EM VERDADE –
o poema era acontecimento em nós)

VI

somos abortos, bia, desse ventre árido:
praças de areia, luminárias diáfanas,
escombros de casa – que desabitamos. existimos

VII

num lugar espaço
aberto entre
o abraço e o infinito

***************************

OUÇO as luzes
estremecidas de janeiro

ouço um coração 
bater dentro da terra

uma voz amordaçada
encerra boca nos desesperos

cantando as dores 
caladas na coluna
 
vértebra à vértebra
abre-se luzes no nascimento

a terra sulca os ossos
edificando o corpo

a semente pulsa e move
o morno no vermelho

em janeiro, o homem
inaugura o verbo

com sete selos na boca
- em janeiro.


Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

Trending Articles