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3 poemas de Renata Ferreira

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[Aernout Overbeeke]



elas

nunca aprendeu a descascar batatas,
a faca afiada corta a “carne” exageradamente.

sem pudor,
transcende os limites da casca;
violência.

arranca os “olhos”,
                                os brotos,
[elas já não brotam, nem sangram]
coisa ínfima.

sem pestanejar,
cozinha todas.

para [no fim do prazer] esmagá-las. 

*


direção

nem tudo é criatividade,
simples e desonesta narração.
:
chove há quatro dias
corpos dissolvidos tentam escorrer pela rua
não há caimento
os ralos estão entupidos
piso em poças enormes de sangue
vísceras em decomposição amedrontam
teria coragem de encará-las?
eu não, pulo de olhos fechados
vertigem-aterrissagem
ironia ou não
vejo uma amarelinha se apagando
ao lado: o sol desenhado com olhinhos apertados e sorriso largo
ritual/brincadeira
cenário de vida e morte

*

inominável 

corpo que mergulha em Quissamã
corpos que caem como chuva dum prédio no Maracanã
ou da ponte mais alta da cidade...
covardia do ser? ou coragem de ser?
desejo tabu de quem está por um triz
palavra de oito letras não cabe no noticiário
não sai da boca, não entra em discussão
presença-ausência dribla olhares desinteressados
doença: cresce sem rumo,
por toda parte, ao nosso redor
enquanto vidas: ESVAEM-SE

***



RENATA FERREIRA (1985) nasceu e vive em Duque de Caxias (RJ). É mestranda em Estudos de Literatura pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Outros poemas, aqui: https://www.facebook.com/claraodesassossego.




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