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Alçapão
Olhos que inspiram
a formação
de inescrutáveis
paisagens.
Baixos, rasos,
belos e fortuitos;
distantes , afáveis
conspícuos, convolutos.
Olhos, que são teus
perolados, enfáticos,
hipnóticos
refluídos a mim
não representam osmose
mas condição
de alguma posse
sobre o universo
que dominas
ao alcançar, longínqua,
teu ideal de amor
em cumplicidade e alternância
de minha distensa
admiração instantânea
teus olhos em fusão
com o infinito
Antes, pares cingidos
Antes, pares cingidos,
perdidos;
agora, encaixados
vagam unos
extrapolando os sentidos
globos de vidro
instados a comprimir
o universo rendido
sob os reflexos da lua
sexos fendidos,
unidos à noite pletórica,
melíflua, magna;
em seu esgar feroz,
que nos devora
carne sobre carne
arte contra arte
costura, impiedade
chiaroscuro, estrondo,
descompaixão
o conflito se orgulha
do amor aspergido
na contramão
a avançar, denunciando
distúrbios surdos
figura sobre fundo
adentrando,
íngreme e cadente,
a folhagem
que se insinua
ao desfrute
em crescente
transfiguração
plena e crua
Em vão?
Não nos transformamos
em escuro
só porque é noite
continuo tentando
clarificar
os vagões da madrugada
Bernardo Almeida nasceu em Salvador (BA), em 1981. É escritor, jornalista, artista digital e roteirista. Participou de dezenas de coletâneas e antologias. Publicou os livros “Achados e Perdidos” (poesia/2005), “Crimes Noturnos” (poesia/2006), “Enquanto espero o amanhã passar” (poesia/2009), “Sem um país para chamar de pátria, sem um lugar para chamar de lar” (poesia/2009), “LONA” (poesia/2011), “O Vencedor está morto” (contos – Editora Confraria do Vento – 2013/14), “Viagem de balde” (conto – Amazon - 2015) e Arresto (poesia – Penalux – 2016/17). Tem poemas traduzidos e dispersos na França e Croácia.