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5 poemas de Sérgio Villa Matta

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Sem Data de Nascimento - Siron Franco


Lesma

a lesma é um camaleão lunar
casa encerrada nas próprias costas
sendas traçadas no papel parede:

aristocrático caracol ensimesmado
ensinando aos homens a reflexão lenta
e persistente do nada

o branco do papel respira tua saliva
prazerosa
gozosa do existir

Casa tomada

eu tenho vontade de esmagar todas estas baratas
entrando por todos os lados da casa
portas e janelas e buracos e frestas e dutos e encanamentos
elas entram aos milhares
elas sobem pelo corpo e fazem cócegas e são obscenas
e nojentas 
Rudolph devora as baratas
ele as mastiga com extremo e voluptuoso prazer
ele as engole com voracidade
é uma puta e lírica cena aterradora as baratas entrando
brotando aos borbotões da casa da pele da casa
e Rudolph meu irmão menor meu pequeno anelo de esperança
as devora
Rudolph é faminto e ri prazerosamente
com a boca cheia de baratas
eu apenas observo tal quadro de tensa e dissonante beleza

Sob o sol de uma tarde tropical e quente

há uma terrível solidão invadindo a praia do arpoador neste exato instante
o vendedor de coco caminha na areia escaldante
o mar ainda está lá como um profundo sentinela da metrópole dissolvida
há mulheres deitadas sob um guarda sol lilás e verde
(quase as cores da querida escola de samba),
mas aqui nenhuma alegria passa despercebida a menos que seja falsa como o sorriso da morena olhando pensamentos antigos debaixo desse guarda sol.
o guarda-vidas não está presente.
(parece que não veio hoje e nem ontem também e não se sabe ao certo o motivo de ter sido alvejado num perdido bar no subúrbio carioca)
turistas conversam num inglês paquidérmico e desolado.
tudo parece um quadro.
tudo absolutamente tudo como num quadro de um bosch tupinquim
e então tiros e sangue mancham a areia que geme
(cidade maravilhosa)
e o sol ilumina a tarde tropical e quente.


Noite profunda

discos de jazz arranhados no escuro da sala
o segredo de seu olhos num copo de vodca
seios sibilantes na penumbra
as horas escorrendo na parede
um silêncio dentro da solidão
uma êxtase
um queda
um sorriso felino cruzando o poema na noite profunda


Perversões cotidianas

I
o amor é só uma estratégia de marketing angariando fundos para um comercial de margarina

II
cada ângulo revela um pouco de si mesmo

III
sorria vc está sendo filmado

IV
tiremos uma selfie junto ao caixão

V
mais likes, mais amor

VI
agora se tranque no quarto e chore

VII
virtual e líquido, escorre uma palavra

VIII
mastiga chiclete e nem se lembra



Sérgio Villa Matta (Londrina,1981) Leu alguns livros e sabe uns poemas de cor. Acredita seriamente q a vida é um sonho dentro de um filme. Não sabe jogar bilhar e tropeça nas próprias pernas. É sobretudo um poeta/leitor imaginário. Posta no facebook e conserva os poemas no  blog: https://bardobaudelaire.wordpress.com/





Etiquetas: 2017, Sérgio Villa Matta, mallaramigo, poemas, vol 5, num 12


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