Quantcast
Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548

6 poemas de Emerson Sarmento


Soneto ao sorriso desconhecido 

Eis o espanto na ribalta dum sorriso
eram sossegos na simetria das luzes
na timidez hermética de um paraíso
libertou meus agouros das cruzes.

Eis o desconhecido encanto conciso
o sublime resvalado diante dos olhos
a entrega ao esquecimento contido
no alumbramento dos meus imbróglios.

Diante da epifânica paisagem dos lábios
a eloquência verve perdeu-se no ímpeto
do silêncio sagrado dos versos sábios.

E o âmago febril em seu ventre fecundo
executa o choro nas ruas de outono
reverberando o sorriso que silenciou o mundo.


Soneto da canção envolvida

Embora recente a canção envolvida
a rosa secular adormece no mistério 
sonhos esquecem a dor envelhecida
na masmorra dum tenebroso império 

Ode à vossa delicadeza em roseirais!
Ode à vossa ardentia turva e sonora!
naufrágios aos pérfidos ônix teatrais 
na imensidão de tua sabedoria afora

És adjacente a tentações grotescas
tua existência reluz o escuro sublime
E ressalvas a razão em tuas veredas 

Por fim, tua beleza exalta a inveja vil
nesta alvura suave, pétalas, requinte
És quinta-essência da primavera anil.


Poema retrato

Que belo tom as rosas uniram
uma azul, a outra, felicidade
vindas do jardim de Monet, anteviram
valsas de pássaros em ode à saudade.

O sol, em sua luz, mergulha no infinito
ilumina no retrato o céu do mundo
ostenta sorriso tácito em verso erudito
e revela morte do tempo no fugaz segundo.

O vento leva os fios sem rumo
a mão que executa a arte – chora!
a poesia confronta o lírio a fundo
mas a primavera com as rosas acorda.

De perto, puro impressionismo – realista
digno dos pincéis e aquarelas de Courbet
o retrato reluz o sonho olvido e futurista
de uma rosa nos cabelos de uma mulher.



Ébria confissão de uma puta

Ouço o que a noite fala
e me calo!
Falo de amor por um trocado qualquer
dano-me em noite de lua cheia.
Encontra-me, Falo!
Outra vez me calo
a fundo,
entre a pausa
de um cigarro
e uma dose de uísque vagabundo,
  
a meia-noite ameaça
declamar o enigma
as cortinas fecham-se
onde penetra agonia
onde fazia frio
talvez em um prazer confuso
de absurdo choro,
envolvendo-me à redenção.

As rosas pretas absorvem
meu veneno selvagem
tento-te, atenta por milhares de maneiras suicidas
entregando-me a tal luto, pois,
esquecerei de morrer.

A noite explora a palidez
cínica do meu outro lado
do outro,
a brisa áspera condena-me em luzes mortais
deixando apenas
meu coração que chora - nunca de amor.


Chuvisco

Cai
 molha
 enxuga
 é frio
 mas passa.
Cai como lágrima de criança
 como uma esperança
 derradeira a cada pingo.
 Cai
 alimenta:
 montes
 florestas
 e amores
mal acalentados
 cai encantado
 com um leve vento
 é o que vos resta.
 Além do sonho
 de crescer
 e torna-se
 uma tempestade completa.

Língua 

Abre tua aurora
tua flora singular.
A língua é metáfora
em movimentos reais
dos teus trêmulos plurais.


Soneto anatômico

Aurícula direita:

És um sonho que transita nas veias imaginárias
uma luz venosa nas vertigens dos caminhos
a espera da paixão sistêmica e seus moinhos
o sentimento que submerge nas horas solitárias.

Aurícula esquerda:

Habitas o que outrora eram vãs agonias
demasiadas tristezas no íntimo d'alma
nos jardins mórbidos no sepulcro dos dias
segui ébrio e relutante na palidez da calma.



Ventrículo direito:

És, portanto, o alento infindo dos ares magistrais
a existência imponente que une os pensamentos
dos meus longínquos desejos onde o amor é capaz.


Ventrículo esquerdo:

Tiraste d'alma o sol pra iluminar minha aurora
desde que rompeu-se as artérias do alumbramento
e todo corpo reluziu com tua chegada, senhora!


Galeria: Mary Cassat



Natural de Recife, o poeta e cantautor Emerson Sarmento ganhou em 2011 o Festival de Música Carnavalesca do Recife, época em que marcou presença no FIG e outros festivais locais.
Com a poesia, concorreu ao Prêmio SESC de literatura. Na Era do Orkut ganhou quatro concursos nacionais promovidos pelas comunidades literárias. Já foi homenageado num sarau em Natal durante o qual seus poemas foram lidos por poetas locais. Em 2012, lançou seu primeiro livro Perfume do Sangue pela editora Moinhos de Vento e em 2016 publicou pela Editora Penalux sua segundo obra Cromossonhos.

Viewing all articles
Browse latest Browse all 5548