Soneto ao sorriso desconhecido
Eis o espanto na ribalta dum sorriso
eram sossegos na simetria das luzes
na timidez hermética de um paraíso
libertou meus agouros das cruzes.
eram sossegos na simetria das luzes
na timidez hermética de um paraíso
libertou meus agouros das cruzes.
Eis o desconhecido encanto conciso
o sublime resvalado diante dos olhos
a entrega ao esquecimento contido
o sublime resvalado diante dos olhos
a entrega ao esquecimento contido
no alumbramento dos meus imbróglios.
Diante da epifânica paisagem dos lábios
a eloquência verve perdeu-se no ímpeto
do silêncio sagrado dos versos sábios.
E o âmago febril em seu ventre fecundo
executa o choro nas ruas de outono
reverberando o sorriso que silenciou o mundo.
Soneto da canção envolvida
Embora recente a canção envolvida
a rosa secular adormece no mistério
sonhos esquecem a dor envelhecida
na masmorra dum tenebroso império
Ode à vossa delicadeza em roseirais!
Ode à vossa ardentia turva e sonora!
naufrágios aos pérfidos ônix teatrais
na imensidão de tua sabedoria afora
És adjacente a tentações grotescas
tua existência reluz o escuro sublime
tua existência reluz o escuro sublime
E ressalvas a razão em tuas veredas
Por fim, tua beleza exalta a inveja vil
nesta alvura suave, pétalas, requinte
És quinta-essência da primavera anil.
Poema retrato
Que belo tom as rosas uniram
uma azul, a outra, felicidade
vindas do jardim de Monet, anteviram
valsas de pássaros em ode à saudade.
uma azul, a outra, felicidade
vindas do jardim de Monet, anteviram
valsas de pássaros em ode à saudade.
O sol, em sua luz, mergulha no infinito
ilumina no retrato o céu do mundo
ostenta sorriso tácito em verso erudito
e revela morte do tempo no fugaz segundo.
ilumina no retrato o céu do mundo
ostenta sorriso tácito em verso erudito
e revela morte do tempo no fugaz segundo.
O vento leva os fios sem rumo
a mão que executa a arte – chora!
a poesia confronta o lírio a fundo
mas a primavera com as rosas acorda.
a mão que executa a arte – chora!
a poesia confronta o lírio a fundo
mas a primavera com as rosas acorda.
De perto, puro impressionismo – realista
digno dos pincéis e aquarelas de Courbet
o retrato reluz o sonho olvido e futurista
de uma rosa nos cabelos de uma mulher.
digno dos pincéis e aquarelas de Courbet
o retrato reluz o sonho olvido e futurista
de uma rosa nos cabelos de uma mulher.
Ébria confissão de uma puta
Ouço o que a noite fala
e me calo!
e me calo!
Falo de amor por um trocado qualquer
dano-me em noite de lua cheia.
Encontra-me, Falo!
dano-me em noite de lua cheia.
Encontra-me, Falo!
Outra vez me calo
a fundo,
a fundo,
entre a pausa
de um cigarro
e uma dose de uísque vagabundo,
a meia-noite ameaça
declamar o enigma
declamar o enigma
as cortinas fecham-se
onde penetra agonia
onde penetra agonia
onde fazia frio
talvez em um prazer confuso
talvez em um prazer confuso
de absurdo choro,
envolvendo-me à redenção.
envolvendo-me à redenção.
As rosas pretas absorvem
meu veneno selvagem
tento-te, atenta por milhares de maneiras suicidas
meu veneno selvagem
tento-te, atenta por milhares de maneiras suicidas
entregando-me a tal luto, pois,
esquecerei de morrer.
esquecerei de morrer.
A noite explora a palidez
cínica do meu outro lado
cínica do meu outro lado
do outro,
a brisa áspera condena-me em luzes mortais
a brisa áspera condena-me em luzes mortais
deixando apenas
meu coração que chora - nunca de amor.
meu coração que chora - nunca de amor.
Chuvisco
Cai
molha
enxuga
é frio
mas passa.
Cai como lágrima de criança
como uma esperança
derradeira a cada pingo.
Cai
alimenta:
montes
florestas
e amores
mal acalentados
cai encantado
com um leve vento
é o que vos resta.
Além do sonho
de crescer
e torna-se
uma tempestade completa.
molha
enxuga
é frio
mas passa.
Cai como lágrima de criança
como uma esperança
derradeira a cada pingo.
Cai
alimenta:
montes
florestas
e amores
mal acalentados
cai encantado
com um leve vento
é o que vos resta.
Além do sonho
de crescer
e torna-se
uma tempestade completa.
Língua
Abre tua aurora
tua flora singular.
A língua é metáfora
tua flora singular.
A língua é metáfora
em movimentos reais
dos teus trêmulos plurais.
Soneto anatômico
Aurícula direita:
És um sonho que transita nas veias imaginárias
uma luz venosa nas vertigens dos caminhos
a espera da paixão sistêmica e seus moinhos
uma luz venosa nas vertigens dos caminhos
a espera da paixão sistêmica e seus moinhos
o sentimento que submerge nas horas solitárias.
Aurícula esquerda:
Habitas o que outrora eram vãs agonias
demasiadas tristezas no íntimo d'alma
nos jardins mórbidos no sepulcro dos dias
segui ébrio e relutante na palidez da calma.
demasiadas tristezas no íntimo d'alma
nos jardins mórbidos no sepulcro dos dias
segui ébrio e relutante na palidez da calma.
Ventrículo direito:
És, portanto, o alento infindo dos ares magistrais
a existência imponente que une os pensamentos
dos meus longínquos desejos onde o amor é capaz.
a existência imponente que une os pensamentos
dos meus longínquos desejos onde o amor é capaz.
Ventrículo esquerdo:
Tiraste d'alma o sol pra iluminar minha aurora
desde que rompeu-se as artérias do alumbramento
e todo corpo reluziu com tua chegada, senhora!
Galeria: Mary Cassat
Natural de Recife, o poeta e cantautor Emerson Sarmento ganhou em 2011 o Festival de Música Carnavalesca do Recife, época em que marcou presença no FIG e outros festivais locais.
Com a poesia, concorreu ao Prêmio SESC de literatura. Na Era do Orkut ganhou quatro concursos nacionais promovidos pelas comunidades literárias. Já foi homenageado num sarau em Natal durante o qual seus poemas foram lidos por poetas locais. Em 2012, lançou seu primeiro livro Perfume do Sangue pela editora Moinhos de Vento e em 2016 publicou pela Editora Penalux sua segundo obra Cromossonhos.