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5 poemas de Clarissa Macedo

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há cavidades como a lua
e todas elas exploradas
todas elas um córrego
plenas de nomes engraçados:
                                   periquita, pepeca, menininha, chave da sedução

a vulva nunca foi um dilema
nem o clitóris um parnaso;
a buceta é fala e é carne

e é lá, bem no meio,
que mora a liberdade.



Panorama

Em cada paisagem
há uma mulher plena de garganta
que sussurra acordes do espírito:
uma mulher é uma mulher é uma mulher 
não é uma rosa
(ou uma ideia de rosa)
não é um homem
é um sabre, um orvalho
átrio preso por 100 bilhões de anos
chave que abriu à força os cadeados.

cosendo a linguagem da existência
e não colchas à costura da máquina,
mortes e fogueiras crucificaram paixões

mas feito redemoinho,
tão violento quanto sereno por dentro,
fazemos gérmen do pó
e desde sempre
parimos a imensidão do mundo. 



Silêncio
  
Lança de ponta envergada
audição de terríveis pensamentos
fala enterrada na carne

cacto que acena com a casca

pranto de criança sem lamento;

queixume lento de casa
rumor que ouve o que chega:
o amor, com seu manto de raiz amarga.



Pecado
  
De tocar o intocável
de comer o sonho
de outro mundo,
de querer aportar em mares
sem ter que descascar
vilões.

Se o caminho não fosse
tão feroz, um porto ainda
me veria.
E eu, ilha bruta que chora,
fingiria que um dia nasci.



Das emoções marítimas
  
Nem liturgia, nem santo:
o que o salvou foram os sargaços
do mar de todos os monstros
que uma mãe pôde imaginar.



Clarissa Macedo, nascida em Salvador (BA), residente em Feira de Santana (BA), licenciada em Letras Vernáculas, mestra em Literatura e doutoranda em Literatura e Cultura, éescritora, revisora, professora e pesquisadora, com diversos projetos em andamento, como a tradução de poetas (espanhol/português – português/espanhol). Apresenta-se em eventos pelo Brasil e no exterior (Colômbia, Peru, Cuba), com convites para mais de 18 países. Está presente em dezoitocoletâneas, além de diversos blogues, revistas (como a Machado de Assis) e sites. É autora de O trem vermelho que partiu das cinzas(Pedra Palavra – 2014) e de Na pata do cavalo há sete abismos (7Letras – Prêmio Nacional da Academia de Letras da Bahia – 2014), ambos de poesia. Sua obra está traduzida para o espanhol e em processo de tradução para o inglês. Integra a plataforma do Mapa da Palavra (http://mapadapalavra.ba.gov.br/clarissa-macedo/) eapresenta o programa Feira Literária. Prepara dois novos livros.Contato: clarissamonforte@gmail.com/http://clarissammacedo.blogspot.com.br.

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