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Jean Michel Basquiat |
abertura
cuaderneta nova onde
não irá rasurado
nada de novo tampouco
de anteontem ou de logo
esbarre aqui o possível
na mancha do presente
verde retorquindo o nu
aoporvenir que há passado
caderno sem alvorada
constante em leitor findo
negro de ganho cautivo
delconcejo impreciso
para onde transmigram
parcelascelos nu-
gas leituras de malvas plagas
cujo escrito quadra e sangra
aparas na areia
acuso barravento o peso
do corpo o de
toda a terra que pulsa sob seus pés
quando no rever do vento
ressuma e de outra maneira
não atinara para o funesto maroceano
aceso cujas ondas fazem-no
barafunda do seu encapelar-se mais
tedesco
mas deste ponto
do averno avarandado
a crista das esposas ondinatosas
sobrenadam os lumes dos reflexos
semelham flecham a efígie de superfície
um nem sempre recomeçado tecido
ainda uma volta
a trampa do favônio a farfalhar meu opúsculo
de praia em cujas delgadas camadas
suspicácia de coalhos a ver brancura para
um apetite de calígrafo
materializado todo em negror
de c a r a c t e r e s
debaixo da folha esbatida
a paisagem infestada de um
firmamento
semideoscopias
iniciado no ano anterior
função de libélulas
contra um azul sem fundo
mas o azul se oferta claro
ao contrário do que faz supor
a escolha
para representá-lo
de sonoridades e de assonâncias
de timbragem mais fechada
escura
todavia
não tão claro
a ponto de descartar o susto
o desmesurável que sua lonjura seu recuo
pode provocar em quem
o admira assim
sem nenhum escopo filosofal
ou em quem
o coteja com libélulas
em função afanosa
recortadas sobre a não-escureza
azul-argêntea
do ar
3 poemas
Menear de árvores no quintal
vizinho.
A tarde rastela ramos,
mas é como se fizera um favor
convidando o vento a embaralhá-los.
Engelha o próprio engenho nesses galhos
que não quebra apesar de tanto esforço.
Dobra o nó da ramagem em noite prévia,
essa sombra que emerge do chão úmido.
Frescor que sabe à morte, sal.
Fermentos,
friúme de ser craca e escara
na formosura desse arranca-tronco,
cujas raízes unham o vão profundo.
*
Sequer em meio à noite escura,
onde se apaga tudo a que me apego,
se cala o simulacro do espelho.
No salão vazio,
cerrado na moldura ovalada,
vislumbra-se, intermitente,
o braseiro de uma constelação,
remota a ponto de não discernir
os flagelos e as delícias dos homens.
*
No alívio da cozinha branca
(silêncio que não desaba),
graças ao pouco inox que contém,
enquanto o notebook,
numa espécie de crepitar minúsculo
resmunga durante o desligamento,
o sono se entranha e paralisa (metáfora-ademirdaguia
segundo a lâmina pernambucana) e
paralisa meus músculos.
Os poemas acima são do livro "Empresto do Visitante" (2013).
Ronald Augusto é poeta, músico, letrista e crítico de poesia. É autor de, entre outros, Confissões Aplicadas (2004), Cair de Costas(2012), Decupagens Assim (2012), Empresto do Visitante (2013) e Nem raro nem claro (2015). Dá expediente no blog www.poesia-pau.blogspot.com e escreve quinzenalmente aqui.