Pluralizo tudo, os tempos e os amores. As tuas falas. A minha falta toda, inteira. Esta flama-falta que me acompanha desde tão pequeno. Desde grudado à saia de uma moça branca de olhos escuros, desde um acalanto diluído em língua calma como o sono.
Eu não sou um homem, sou uma peste bíblica. Uma máquina feita de dentes, cordas, pedras e engrenagens-coágulos.
E se os ombros dançam e os olhos modulam de um verde-harpa a um castanho-nuvem, e se tantas vezes tentei encontrar Deus nos freios do meu carro, e se a moça branca como um sono acalentou a saia em uma língua escura, responda-me, Alice:
Há algo que respira meus olhos? Minha mão direita voltará a caminhar? A casa de meus avós perderá os rins? Somos apenas pó-sem-sopro? E ainda-sempre:
No teu seio esquerdo flutua hoje uma criança? O filho que nomeamos antes da onda toda mar, toda flor?
É um ponto após um ponto após um ponto após, Alice.
Alice, este nome. Que uma flor. Ou faca.
Posso nomear-te com outro nome? Nomear tal? Ou.
São apenas variações (e uma fuga) sobre uma flor e o suor de uma mulher.
E se por um momento estive dentro do teu corpo, e se os homens riem dos amores que desabaram na malha dos dias, das horas, das árvores, e se uma peste embranqueceu a saia-acalanto da língua de minha mãe, respondo-te, Alice:
Continuo flama-falta,
fliama,
flam,
fladma,
flaume,
flame.
Continuo, Alice. Encontro em uma parede de minha casa, fundo, enterrado no telhado:
A bailarina é bruta como um touro. Costura nas pernas um sorriso. Carrega terra nas veias. Ata no rosto um pedaço-mãe.
E o mundo.