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6 poemas de Claudia Manzolillo

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CARAVAGGIO

Viajo entre a sombra e a luz
dessas telas que me tragam
eterno teatro estático e dramático
movimento-me ali entre caras e bocas
santos e feras
a luz me engolfa
a escuridão me apavora
mas o êxtase me domina
e fico nas dobras
no panejamento das vestes
emolduradas em ouro e pátina.


ESCOMBROS

Deus poesia
escreveu poemas
Deus arquiteto
construiu cidades
Deus humano
criou o homem
O homem
desumano
mata Deus
explode bombas,
destrói cidades,
mutila crianças.

DESLEMBRANÇAS

Já não me procuram mais
a vaga, o marulho das águas,
o ir e vir
já não me procura mais
o vento, sopro de Deus
no rosto de barro.
Enquanto isso,
acalanto
o inseto verde
que insiste
em pousar sobre meu peito.

GUARDAR-SE

Guarda-se tudo
Fatura vencida
Roupa velha
Botão sem casa
Um pedaço de papel
Um diário caduco
Uma flor seca
Guarda-se tanto
A ponto
De existir
Um guarda-tudo
Eu não guardo
Nada
Aguardo.

QUARTO

Apenas meu olho orbita
No universo vácuo silente
A porta espera
E de tanto vazio
Se inunda a câmara
De gás mortal.

BEM-ME-VI

Um canto
tarde
e longe
e perto
bem-te-vi
repete
bem-me-vê
e eu bem-me-vejo
quantos bem-te-vis
e nós mal nos vemos
bem-te-quero
bem-te-vejo
bem-me-quero!


Nascida no Rio de Janeiro, mestre em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com dissertação intitulada Perfis femininos na ficção de Lygia Fagundes Telles. Professora de Língua e Literatura do magistério federal no Colégio Pedro II. Publicou A dona das palavras, livro de contos, em 2015, pela Editora Penalux.
 


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