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10 poemas de Bento Calaça

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Ben Zank
                                                           

 Zinabre da Morte


Chumbo perdido
besouro sem asas
voláteis sedento
fazendo inocentes
chumbo perdido
um grito de dor
a noite fedendo
ferida e horror
chumbo perdido
da morte o espinho
que mata e crava
que crava e mata
apagando caminhos


TORMENTA

Feras deitam unhas na noite
Luz sombra sangra gemendo
Carne fresca vendida em orgias
Por parasitas que engordam

No desespero que a fome traz
Corpos nus evaporam - se na noite
Perdendo o orgulho ganhando em ira

Possuídos devoram o ócio até o tutano
Olhos de peixes nas mãos corroídas
Com línguas e falos a pele tateia

Os corpos amanhecem ocos
Umbigos entram em órbita
A nave cheira sangue e sêmen
olhos mortos fitam os céus


NA ONDA DA PRIMAVERA SÌRIA

O destino sentencioso 
Das aldeias em destroços
O sino leproso
Toca nos ossos.
Para sempre selado está 
O Inferno de bombas e fumaça
Síria ao deus-dará
Espírito de luz baça 
Bashar al-Assad.

Há de se confiar 
Em Kofi-Annan ou Alá
George Brassaï

 Cachimbando Nuvens

                          Liberto das âncoras 
                     suspira inflada a esquadra 
          não querem o grã merecimento do repouso...
                     Docemente singram os mares.
             Sangue e nervos tem aqueles navios 
             quando partem cachimbando  nuvens.



Diário de um Náufrago

O mar visto da pedra onde estou
transborda pelas manhãs
de peixes e pássaros

não eram minhas as mensagens
que recebia em garrafas na praia
mas com o tempo foram sendo...
fiz verdades em garrafas de outros.

Eu, que nunca tive um Deus
com quase meio século
descubro ser o meu Deus
o mar.
Temperamental e traiçoeiro
às vezes manso como um cordeiro
dissolve-se em sal no azul do céu
enquanto gaivotas, voam penas
feito folhas.
Ateei fogo ao passado
para dormir em travesseiros de cinzas
e da ilha dos sonhos
nunca mais voltar
Engolido pelo pôr do sol


Ulisses & Iara
.

Pelo encantamento
do canto á luz da lua
feito rede de pescar 
agulhinha branca
assim Ulisses é fisgado
para as águas fundas 
da sereia Iara
.
Os sinetes tocam
canta uma voz de mel
dessa vez Ulisses não veda
os ouvidos com cera 
joga-se enlouquecido ao rio
por entre as cortinas de rendas
para sem juízo amar Iara.



Tristão & Isolda


Tristão fez de sua honrada missão
pesadelo paixão morte luxúria e dor
Isolda teria sido entregue ao Rei, sã
não tivessem tomado o chá do amor. 
.
A noite cai sobre a nau sem piedade 
os lábios tocam-se num afeto de mel
amor num périplo para imortalidade 
também sem fim n'uma alegria cruel 
.
Tristão e Isolda representam uma era
vencendo trevas, gigantes e dragões
amor eterno, divino, rompendo grilhões. 
.
Com rapidez a realidade já é quimera 
foi possível desamar e amar até onde deu
morreram juntos mas o amor não morreu.



Tommy Ingberg


O Trigo de Cristo Moído Nos Dentes Das Feras
.


Naqueles dias na escuridão das catacumbas Nas noites 
escuras e sombrias de Roma sombras com tochas 
iluminavam as ruas Os irmãos em Cristo se reconheciam
num arco ao contrário Tatuavam o peixe no mar de suas
memórias Suportavam á perseguição do sacrifício da carne aos leões Era o 
povo de Cristo perseguido nas noites das bestas.



Porcelana é o silêncio do Pira-Iauara

Lá fora há um mistério
varrendo as margens do ribeirinho
mãos e pétalas com seu perfume


Vez por outra um boto cor de rosa
sai das aguas para fornicar com donzelas
de sombras virgens
são nesses dias que Pedro machado

rezando em terço estrelar
cheirando a sândalo
abre as portas do silêncio em dança
para as orgias do pira-iauara...



Bacanal


Do portal da luxúria empunhando seu tirso 
e o cântaro de vinho no dorso de sua pantera
o deus da orgia da vinha e do bacanal, Dionísio!
Trazendo o perfume e a poesia da primavera,
.
as bacantes deliram selvagem e luxuriosas.
Soam as flautas tambores sinos e cravos
hoje as nove musas bebem nuas e gostosas.
Da orgia Mestre e discípulos são escravos,
.
poetas possuídos em delírio poetizam, evoé Baco!
Baco do balacobaco se contorce fanático e amoral
a religião é a poesia o vinho é doce não é fraco.
.
Os tímidos beijam-se de língua sem salvação
e com suas tochas ardentes queimam a moral
 as 9 ninfas de Zeus dançam nuas em oração.




Professor de História. Pós-graduado pela Universo-RJ. Cabra da peste do Nordeste, gostava de queimar seus poemas, atividade que deixou de praticar, depois que conheceu o BDE – Bar do Escritor. Costuma dizer duas coisas: “Que nunca matou ninguém, que não fosse necessário!”... “E apesar de ser pálido e doente não é intelectual”.


















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