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OS MESES TODOS DE PEDRO FERNANDES

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Previsões *

Minha avó costumava em certos meses do ano
Pôr sobre a casa numa tabua morros de sal,
Doze ao todo, os doze meses do ano:
Janeiro. Fevereiro. Março. Abril. Maio. São João.
Santana. Agosto. Setembro. Outubro. Novembro. Dezembro.

No dia seguinte contava a quantidade do derreter
E dessa quantidade via os meses chuvosos,
Os menos e os mais,
Também os meses secos –
Estes, de Santana em diante serão secos.

Nos meses de São João e Santana
Se um bando de garças cortasse o azul pardo
Nas tardes afogueadas
É que a seca estabanada encontrava o sertão.

E era mesmo: as garças se iam deixando para trás
Uma caatinga de verde esmorecido,
Capim amarelo.

Breve a caatinga fazia-se cinza,
Como que morta, adormecida,
Vestida mesmo de morte, despida de vida
Para suportar as agruras o calor.


* este poema integra o livro Sertanices (inédito).











cinco estrofes para gaza (fragmento)

expeliu sangue gaza pela tela
ficou a pele exposta
na crosta do televisor

e de dentro do poema
essa sala irregular
de paredes vermelhas
um coração pulsante
dançando um ritual
de dor

e o fogo trabalha a carne
digerindo os milagres
a natureza

por aqui conversamos imagens
soletramos sangue
ouvimos balbúrdias
e não digerimos
esses grãos de luz
cortando o céu negro
da boca do poeta

expelindo poemas
explodindo malhas
vermelhas de vidas







____________________________________________________________________________

Pedro Fernandes de O. Neto (Lajes, 14 de agosto de 1985) é professor, crítico e escritor. Atualmente cursa Doutorado em Literatura Comparada pelo Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem na Universidade Federal do Rio Grande do Norte com pesquisa em José Saramago e António Lobo Antunes.

Graduou-se em Letras com habilitação em Língua Portuguesa pela Faculdade de Letras e Artes da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte, onde defendeu o ensaio O ser em O conto da ilha desconhecida diante do ser sartriano, ainda inédito. Depois fez Mestrado em Letras na mesma universidade, quando defendeu o ensaio Retratos para a construção da identidade feminina na prosa romanesca de José Saramago.

Foi editor por dois anos do Trabuco – um jornaleco da Faculdade de Letras que ajudou fundar em 2007. Em 2010, inaugurou o Caderno-revista de poesia 7faces – um periódico que trata da publicação de poesia; tem distribuição eletrônica e gratuita.

Agora em 2012, publicou seu primeiro livro, Retratos para a construção do feminino na prosa de José Saramago (Editora Appris, 280p). É autor ainda dos livros de poesia Sertanices e Bardos, títulos inéditos, e do e-book Palavras de pedra e cal, lançado de forma independente em 2009, pelo Selo Letras in.verso e re.verso reunindo trabalhos publicados em diversos sites, jornais e revistas.

É colaborador para diversas mídias escritas do Estado, tendo publicações em jornais como De Fato, O Mossoroense, Correio da Tarde e Tribuna do Norte. Mantém o blog Letras in.verso e re.verso.





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