POESIA NÃO É ESPORTE
Os esportistas
têm idade limite
de desempenho,
inclusive os jogadores
de xadrez.
Os poetas
continuam escrevendo
após envelhecidos;
não há, pois, motivo
para competições.
Quanto a mim,
só escrevo
por esporte.
SEM TÍTULO
acertaram
o calcanhar de aquiles
da Seleção
calcanhar de Sócrates
na Copa de 82.
* * *
gostava tanto
de jogar bola,
que chiou
aos 45
do segundo tempo.
era cedo demais
para o chuveiro,
mas o árbitro
é quem manda ali,
esse filial da mãe.
lá vem
o embaixador
do futebol
com suas
embaixadas.
* * *
na partida
de faltebol,
até o armador
foi parar
no estaleiro.
* * *
O VIGIA NOTURNO
sua única companhia
é o radinho de pilha.
o rádio fala fala fala fala
e não escuta.
quem precisa
de pessoas?
calçou
os pés de pato
e fundo
mergulhou.
os patos
na superfície
permanecem.
Deus,
a quem
mergulhar
não sabe,
pés de pato dá.
esses meninos
mal se conhecem
e já brincam
feito velhos amigos.
jogam bocha,
damas, carambola,
biriba, pif-paf,
trilha, víspora,
desafio, dominó.
* * *
O LUTADOR DE MMA
com um joelhaço,
o lutador de MMA
detonou o crânio
do adversário.
não foi punido;
ainda ficou com a vitória
e a grana.
esporte
que não tem falta,
é esporte
que não faz falta.
* * *
não mediram
esforços
quando mediram
suas forças.
* * *
esforço
físico
no banheiro
químico.
* * *
A TOCHA EM CURITIBA
só quiseram
a tocha olímpica
apagar
porque o fogo
no circo
não lograram
fazer pegar.
OLIMPÍADAS CARIOCAS
às vésperas
do início dos jogos,
a definição
de quem será
porta-bandeira
no desfile
de abertura;
nada se falou
sobre o mestre-sala.
* * *
O HISTORIADOR DO PRESENTE
Não fui para o Rio
ver a abertura dos jogos.
Estou sem TV em casa
e nem em casa
eu estava.
Cheguei a tempo
apenas de ouvir
o radialista emocionado
com o que
eu acabara de perder.
Perdi.
Vou coletar
depoimentos,
pesquisar vídeos,
reportagens,
revistas e jornais
da época;
terei de me contentar
com as fontes primárias.
O FUTURO DO ESPORTE
Os esportistas
de alto rendimento
fazem insanidades
com seus corpos.
Não há futuro são
para os esportistas
que lutam
por altos rendimentos.
O futuro do esporte
está no esporte
praticado por esporte;
o futuro do esporte
está no esporte
sem futuro.
Esculturas : Jens Ullrich.
Paulo Roberto Pereira Vallim nasceu em 1962 em Curitiba, onde mora. Somente em 1987, aos 24 anos, começou a arriscar seus primeiros poemas, que rapidamente repercutiriam em alguns concursos. Em 1991, contudo, começava a uma crise criativa que só terminaria em junho de 2014, graças ao incentivo do poeta Geraldo Magela Cardoso. Depois apareceram outros apoiadores, como os poetas Márcio Davie Claudino e Jandira Zanchi. Foi publicado em antologias de concursos, nos jornais Correio de Notícias, Folha de S. Paulo e RelevO, além desta quinta participação na revista Mallarmagens. A partir de agosto de 2015 passou a participar de alguns saraus, o que certamente gerou consequências nos textos. Atualmente está começando a fazer experiências com áudios.