Chá de Calcinha
Patenteando a revelação!
A avaliação do psiquiatra não conta o conto que virá.
Ninguém precisa saber quem é, nem o que quer, que loucura maior é matar a magia dessa insatisfação aturdida que te levanta de madrugada e te faz vagar pelas vias.
Nem camisa de força, nem cinto de castidade, que meus buracos precisam de vento de verão a verão.
Meu sonho é vender chá de calcinha das mulheres que amam com veemência. Esse chá milagroso, abre caminhos, e arruaça cabeça, que eu trabalho com desorganização, descubro desejos, invento necessidades, dou alívio a quem quer pão, me escondo na boca do cão…
Na noite em que beberes do chá terás uma grande revelação. Para tal use três gotas sublinguais, durma ungida do leite derramado do amor do bem amado, use calcinha de algodão, se for homem, cueca não. O chá de calcinha das mulheres que gozam com encarniçamento tem efeito mais forte, tem também colaterais…
Quem dele bebe acorda as 3:00 da manhã desejando saber mais, as entidades criadoras da mãe Terra te entregaram o caminho do santíssimo sem cobrar percentuais…
Nem tarja preta, nem remédio pra enxaqueca, pois atrapalham os rituais. Dizem que resseca os fluidos do caminho da salvação. Sabendo disso, tomem não.
Para maiores informações chame in box, tenho zap e fixo. Cada conselho são 300,00. Com o chá cobro bem mais.
Fogo sagrado
Vivo pensando ritual
Pedindo licença pra Exú
Pedindo a benção de são Bento
Pois nem Jano trava as minhas portas
Esse desejo de avolumar
Torno a percorrer todas as vontades
Mesmo aquelas que me deixa febril
Vou tentando a reza forte
Banhando com erva o corpo ardente
Quando vejo já fiz escândalo
Dançando enroscada com a serpente
Malditas sejam as horas vazias
Se não houver gozo nem bruxaria
Vou bater perna na noite
Com andar épico e tom estridente
Ser cervejeira na lua minguante
Pois quando cheia nem me atente
Saio de casa tão decidida
Me faço rainha do povo na rua
A sacerdotisa do fogo sagrado
E rio com a boca cheia de dentes
Tretas
Aquelas tretas do estado de apaixonamento, o arrebatamento não deu o tempo de explicar a falsa sanidade que aprendi a interpretar. Todos os louros a quem engana bem.
A franqueza não vende suficiente para o capital alucinado por mais tempo de não pensar. Não tenho muita memória, isso ajuda a continuar, reconto todos os dias a mesma história da puta infeliz que resolve se vingar por amor. Que educa o corpo a uma boa postura, que insere os caras numa boa conduta, sacerdotisa do feminismo brando, cantante provocadora da verdade, infame, construtora de barracos sujos nos buracos da cidade do Rio de Janeiro e adjacências...
Loucura zero cocaína, viciada em endorfina e falocentristas encarnados de moços educados, com óculos tortos e doutorados.
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Andréia Evangelista é atriz, bailarina, coreógrafa e dedica-se a construção da performance virtual através dos seus escritos e performances urbanas.
Atualmente comanda um coletivo de dança butoh e aplica curso de performance do inconsciente.