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TREMER EM SÉRIE - Poemas de Adriane Garcia

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TREMER EM SÉRIE
Adriane Garcia


I


Uma semente que nunca
Arrebentará a casca
Bomba inócua
Mina terrestre inoperante
Guardando o aborto das flores
Frio é feito para se encolher.


II


Nos primeiros dias não
Dormi
Depois passei a
Hibernar
(Encolhimentos de cobertor)
Demônios fingindo que eram
Você
Se aproveitavam dos espaços nos sonhos.


III


Subo até esta última folha
Verde broto a mais tenra a mais perto
Do Sol
Subo ao meu gigante esperado
De um sonho antigo
Subo
Esta queda será enorme
Subo
Será a maior queda de todas
Subo
Por algum imperativo
Que sempre quis estraçalhar-me.


IV


Agora de sentir frio eu quero
Aprender as variações do branco
Acostumar-me com cem nomes para gelo
A ponto de não estranhar
Minha própria temperatura
Quando eu novamente
Morrer.


V


De imaginar sua ausência
A noite tornou-se polar:
O frio das lâminas que cortam
Os cordões umbilicais.


VI


Depois que você morreu
Eu decepei o jardim
Fechei as cortinas
E vim morrer de frio
Se havia vida lá fora
Não vi.


VII


Esqueci tudo o que eu sabia
E passei a apregoar as boas-novas
Achava-me discípula da
Verdade
Quando na verdade
Não passava de uma
Discípula da esperança
Na minha terra se dizia que
Eu cantara de galo:
O cano frio do metal a
Dois centímetros da nuca
Eu nem senti.

***


Imagem: escultura de cabeça Kumik

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