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5 poemas de Karin Krogh

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Ilustração: Martha Bevacqua



Ela era Artemísia.
Leitor de Nabokov
o pai deu-lhe o nome.
Flor rica em pólen
protetora dos partos
deu cria cedo
um botão por ano
nacidos em pedra
todos sabor de absinto
assim como Artemísia
degustados por seu pai



Poema de único dono

O suor dedilha minhas costas.
Pequenas patas de besouro.
bil na escalada
dos alpes de minhas nádegas,
ele retorna
e encontra suas mãos
sujas de tinta óleo.
Na inércia dopós-êxtase
seus cabelos de nanquim
formam caminhos
no travesseiro florido.
Sigo com os olhos
cada um deles
até encontrar
a paleta de cores
Seu corpo


Infante


Aconteceu bem antes da Luciferase, quando o vagalume acendia a bunda e iluminava a infância;
aconteceu bem antes do arranjo A,C,T,G em dupla hélice, quando eu havia puxado os olhos do meu pai;
aconteceu bem antes do Rivotril, quando o coração acelerado era paixão escancarada;
aconteceu bem antes da bateria de Lithium, quando eu corria pelas ladeiras de Diamantina;
aconteceu bem antes do Protex, quando lavava as feridas com água e sal;
aconteceu bem antes do Prozac, quando permitia sentir a mornura das lágrimas.


Ilustração: Julie de Waroquier


Posso sentir o peso
da cadeira
ela arrebenta
e deixa lascas
Minha coluna se dobra
ato involuntário
os músculos se contraem
sustentam o próximo golpe
A cadeira perde as pernas
os hematomas são rojos
o encosto é arma
incha, sangra
meu corpo no chão
os hematomas são roxos
o corpo quente
sangue que inflama
o sol toca parte do meu
calcanhar
sobe até as
coxas
roxas
hora em hora
agarro os pés
da mesa
puxo meu corpo
até sentir a proteção
do mármore
por cima
do meu corpo roxo
Agora é esperar
a lua
maldita
até o fim das cadeiras
até o fim.



A arte do sufocamento


Tomei posse do seu pescoço. Colar de palmos. Gargantilha de dedos. Hipertrofia dos meus bíceps na sua carne.  Rios e seus afluentes enchem de vermelho a sua esclerótica.  Agora é só minha luz na sua pupila. Atravessa o cristalino em impulsos eletroquímicos.  Somente minha imagem navega até suas células cerebrais. Nesta fração de segundo, sinto o tremor que me negou durante o gozo. Rigor mortis.



Karin Kroghnasceu em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, em 1972, mas depois foi pulando de galho em galho, Diamantina-MG, São Luis-MA, Ribeirão Preto-SP e agora São Paulo. É formada em Farmácia pela Universidade Federal do Maranhão, com mestrado e doutorado em Biologia Molecular pela Universidade de São Paulo. Apaixonada por livros, literatura e suas duas filhas, tornou-se contadora de histórias e publicou o livro infantil Dondila e Jurema( Giostri editora) em 2014. Seu primeiro livro de poemas Insídia será lançado pela Editora Patuá.

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