Quid genitu
Insigne
o poeta
de maio
de âmbar
insólito
insólito
seus olhos
bólides
espelhados
aguardam
que passe
que sangre
de si
para si
o ato
do ofício
profícuo
em vésperas
e carnavais
Estróbilo
seu estro
quidgenitu
quid quantum
quid facto
conforme
encetado
fadado
fadado
ao vagido
num vasto
possível
por esperar
O poeta
sui generis
de fisgas
certeiras
acerta
o vespeiro
de latas
concretas
e condensados
morais
E a nata
compacta
inteira
se agita
ao brilho
mortiço
no lago
de engasgos
de flores
e frutos
quejandos
e estrelas
descomunais
Perclepso
Trocam-se as consoantes,
antes mesmo que eu as cubra de beijos,
meus lábios nos lábios delas.
Somos irmãos de sentidos e sensos,
pontos de luz,
sombra na exasperação do tempo.
Soníferas – me revelam diluídos segredos.
Dentes afiados, agudos – mordiscam deliciosamente
minha língua
em inúmeros, bastos movimentos.
Algumas têm um estrabismo magnético;
outras, ateias, atinam deuses em longitudes
e hemisférios.
A que se destinam, se permanecem memória?
Meus tímpanos, a decomposição de uma orquestra.
Terá a vida resvalado em arestas, armadilhas,
torpedos, precipícios e ânsias?
O que foi é pasto posto, pressuposto,
já nem penso em deslizes ou rédeas.
Se algo guardamos da natureza dos anjos
é essa consonância, um desejo de asas
– a vertigem
e a sensação da queda
em pleno voo.
AGORA QUE VIRGINIA É MORTA
Em meu boné industriado,
velho de guerra,
já não se desenha
sobre o pequeno escudo
o nobre leopardo – o sublime,
em fios de ouro, o emblemático,
o quase vitoriano.
Meu boné se esfacela em chistes,
disparates; nele, o embuste, o ricochete,
a cabeça sopesando os dias,
o desconcerto só pensando as horas.
Virginia Woolf, trazida ao presente
por um fio de memória, acende um cigarro
e se acomoda numa cadeira, perto da janela,
para escutar os versos de um pássaro-lira
cujas feições lembram as de T. S. Eliot
– um êxtase de penas e de frases vivas.
Cheiro de açafrão, alecrim, fumaça,
meus temperos se dissolvem nesta lembrança
e nos objetos da casa.
Meus prazeres, fantasmas e dores,
Virginia sempre soube.
Ela, sim, era realista – mesmo
em seus maiores tormentos.
Eu troco alhos por bugalhos.
Mineiro do município de Bom Jesus do Galho, Fernando Campos reside desde 1984 na cidade de Caratinga. Começou a escrever poesia na adolescência e é autor do livro Insolvência – fragmentos de amor e morte e um esboço de despedida (2015, Ed. Caratinga), entre outras obras ainda inéditas.