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ESCRITA LIVRE

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Escrita livre



Luciana Salum



Háde se pensar em alguma liberdade em tempos de cólera.

“Escrita livre” parece-me um bom nome já que atribuímossentido às coisas. Remete-me claramente àassociaçãolivre e carrega, como herança, a própria prisãodo termo. Peço licençaao campo poético e iludo-me numa liberdade efêmeraque desaparecerá na medida em que terásido. Na medida em que terá sido escrita. Presa então estaráao sentido do outro, daquele que leráo texto e fará dele os meus vocábulosjá escritos.

Parece que o fracasso da comunicaçãoanuncia seu caminho... Textos produzidos exclusivamente como garrafas jogadas ao mar. Com destinatário que prenderámeu equívoco em outro porto. Distante. Marcado pelo oceano sem onda que não mais trarámeu dito lido por outro para me contar o que eu disse. Desamparo-me por minhas próprias palavras. Escrita livre e extraviada. Constantemente extraviada. Exclusivamente extraviada.

***

A madrugada me lembra em minha liberdade silenciosa, juntamente com meu psicanalista francês preferido, que o amor éuma junção do Imaginárioe do Simbólico com a exclusãodo Real... E ao optarmos por afetos tais quais a ignorânciae o ódio nossa liberdade é,tanto circunscrita pela falta da palavra mediadora, exibida pelo ódio,como pela inviabilidade da representação, pelo  triunfo da ignorância.
(...)
Havia isso certo? Escritos em textos que me fizeram destinatária? Garrafas perdidas não em mares mas em lagos artificiais marcados por uma cidade projetada que, desesperadamente, transgrediu algumas de suas regras e deu espaçoà radical diferençaentre mim e outro. Deu espaçoàdiferença insuportávelpelo olhar que me familiariza com aquilo que deveria permanecer  quieto e élançado aos olhos do mundo a denunciar toda minha estranheza e ser marca de meu desassossego.

Escutei, penso que poucos escutaram... veio com a forçade um grito e foi escutado com a potênciade um sussurro... Eu escutei. Acho que por que vi,... Acho que por que amei.

Vinha como um pedido urgente de amor. Parece ser ele o afeto ausente a denunciar toda a falta de solidariedade e generosidade de uma geraçãoque cresce em progressão geométrica. “Mais amor”... era isso? Não sei mais. Parece que tomada por Epimeteu esqueçominha história, absolvo-me de meus pecados e... quanto ao amor, fico com o que me cabe, com o que me serve bem. Afinal, “ébom possuir, é bom possuir, ébom possuir”.

                                                                               Foto: Luciana Salum


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