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5 poemas de Leo Lobos - Tradução de Enrique Carretero

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Ilustração: Leo Lobos




Neve

Neva,
e todos na cidade
queriam mudar de nome.
Jorge Teillier


Ah as palavras
O vento
O orvalho
A água
A tormenta

Ah as palavras
Ar
movimento
Sonhos de concreto armado
Voo mental
Eletricidade
Matéria
Podredouro

Ah as palavras
Traços esféricos em tinta preta
Mapas e rotas astrais coloridas de novo
Galáxias sem mais
Solidão
E tormenta

Ah as palavras
A arte
O fôlego
A alma das coisas
O que é
O que será
Escuridão e pura tormenta

Ah as palavras
Lembrança
e
Esquecimento
Esquecimento e
Tormenta

Ah as palavras
Ser e fazer
E só tormenta

Ah as palavras
Ocaso
Traição
E a mais clara
E absoluta tormenta

Quais as palavras que a neve
oculta com seus corpos na alvorada?




Neve-um

A guerra que ontem era de outros está hoje por toda parte
GigiaTalarico



Para ver Neve à noite
você deve fechar seus olhos
na sua transparência
radiante
verá então
com os olhos fechados
mais
uma vez
Neve dentro de você




Os errantes do karma

O céu é branco como o chão branco

Cegos e invisíveis vamos
nesta marcha

Para não esquecer em nós
a lembrança de nós que se apaga insistente

Mudará esta lua?




Onde?

Tênues ondas de ar
brancas quebradas
desde os confins extremos
azuis e minúsculos cristais de gelo
assoprados pelo vento




Starting-gate

Aqui estou no portão de saída
nem cavalo
nem cavaleiro
lendo um livro de um tempo
ao qual você não terá acesso
O coração é um caçador solitário
que nada no aquário
da imaginação
um solitário reflexo a plena luz
Serei o último em pular
à pista
nesta corrida
onde todos querem chegar
em primeiro
lugar
Sabe
Me consolo olhando os pássaros
que se perderão como tudo na névoa
de uma tarde qualquer

A Carson Smith McCullers (1917 – 1967)
Em Campinas, SP, Brasil, março de 2006




Tradução de Enrique Carretero




Leo Lobos (Santiago de Chile, 1966) poeta, ensaísta, tradutor e artista visual. Fez residências criativas em CAMAC, Centre d´ArtMarnayem Marnay-sur-Seine, França em 2002, e em 2003-2005 no centro de culturaJardim das Artes en Cerquilho, SP. Publicou, entre outros, Cartas de más abajo (1992), +Poesía (1995), Perdidos en La Habana y otros poemas (1996),  Ángeles eléctricos (1997), Camino a Copa de Oro (1998), Turbosílabas. Poesía Reunida 1986-2003 (2003), Un sin nombre (2005), Nieve (2006), Vía Regia (2007), Nieve e outros poemas (2013). Atualmente trabalha como gestor cultural do Espaço Cultural “TallerSiglo XX Yolanda Hurtado” da Fundação Hoppmann – Hurtado, em Santiago do Chile. Os poemas do livroNevesão uma homenagem à memória dos jovens recrutas mortos na região do vulcão Antuco, no Chile, no ano 2005. 







Enrique Carretero, nascido em Santiago do Chile, é poeta e tradutor. Formado em letras Português/Grego, na USP, publicou seu primeiro livro de poemas, Travessias, pela editora Patuá em 2014. 





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